Com ocupação de favelas, moradores começam a romper o silêncio e exigir direitos; número de denúncias multiplica - o Globo, 18/12/2010 às 20h20m; Vera Araújo
RIO - Em plena era da informática, na qual o e-mail impera como meio de comunicação, moradores dos complexos da Penha e do Alemão, áreas retomadas do tráfico pelas forças de segurança no fim de novembro, usam os métodos mais simples para dar informações. Acostumados à lei do silêncio e ao terror imposto pelo crime, eles recorrem às vezes a pequenos pedaços de papel ou mesmo apenas ao olhar para transmitir uma denúncia aos policiais que ocuparam a região. É um primeiro passo para vencer o medo e exercer a cidadania.
O comandante da força de paz do Exército que atua nos acessos aos complexos, general de brigada Fernando Sardenberg, conta que seus soldados já encontraram pedaços de papel, cuidadosamente dobrados, perto de seus coturnos. Nas mensagens, moradores anônimos informam esconderijos de armas, drogas e bandidos.
No dia 26 de novembro, quando a polícia já tinha ocupado a Vila Cruzeiro, na Penha, e estava preparando a operação para entrar no Complexo do Alemão, o Disque-Denúncia bateu recorde de atendimentos em seus 15 anos de existência: 1.136 ligações, algumas delas indicando armadilhas feitas pelos traficantes para atrapalhar ou matar policiais. Em todo o mês de novembro, foram 12.683 denúncias, quando a média mensal é de nove mil. Já de 20 de novembro, quando começaram os atentados praticados por traficantes, ao dia 8 deste mês, foram 5.341 denúncias referentes aos ataques e 7.970 sobre tráfico (sendo que 2.342 relativas ao Alemão e 899, à Vila Cruzeiro).
- A gente consegue perceber pelo olhar o que os moradores querem dizer - diz o comandante do Bope, tenente-coronel Paulo Henrique Azevedo Moraes. - Muitas vezes, eles nos convidam para tomar água e acabam soltando alguma informação, timidamente.
Com UPPs, comunidades passam a receber iniciativas que racionalizam consumo de energia -O GLOBO, 19/12/2010 - Fábio Vasconcellos
RIO - A especialidade de Hilton Rodrigues dos Santos, 65 anos, é mecânica de automóveis. De vez em quando, ganha alguns reais também com lavagem de veículos. Embora um pouco distante do mundo das bombas hidráulicas, esse morador do Morro do Andaraí poderia facilmente ser confundido com um funcionário da Cedae. Há oito anos, ele decidiu se mudar para a casa de máquinas da companhia de abastecimento de água, que fica dentro da comunidade. Foi a forma que encontrou para impedir que traficantes e moradores mal intencionados depredassem os equipamentos, que estavam desativados por falta de manutenção.
A história do morador do Andaraí, comunidade que ganhou este ano uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), sintetiza o drama das áreas que viviam sob o controle de traficantes e milicianos. A ação dos bandidos dificultava a entrada das concessionárias de água e energia ou de suas equipes de manutenção. Sobravam cobranças de taxas extras, ligações clandestinas e uma péssima prestação de serviço.
A entrada de UPPs, por enquanto em 13 favelas, tem provocado mudanças nesse cenário. Além de incentivar as concessionárias a se mobilizarem de olho nessa clientela, tem permitido uma nova relação entre empresas e moradores. E os resultados começam a aparecer. A Favela Dona Marta, primeira comunidade a ser beneficiada com uma UPP, registrava 98% de inadimplência na conta de energia e não contava com o serviço de manutenção adequado da Light. Hoje, 98% das residências estão com as contas em dia.
O Policiamento Comunitário ou de Proximidade é um tipo de policiamento ostensivo que emprega efetivos e estratégias de aproximação, ação de presença, permanência, envolvimento com as questões locais, comprometimento com o local de trabalho e relações com as comunidades, objetivando a garantia da lei, o exercício da função essencial à justiça e a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do do patrimônio. A Confiança Mútua é o elo entre cidadão e policial, entre a comunidade e a força policial, entre a população e o Estado.
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