O Policiamento Comunitário ou de Proximidade é um tipo de policiamento ostensivo que emprega efetivos e estratégias de aproximação, ação de presença, permanência, envolvimento com as questões locais, comprometimento com o local de trabalho e relações com as comunidades, objetivando a garantia da lei, o exercício da função essencial à justiça e a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do do patrimônio. A Confiança Mútua é o elo entre cidadão e policial, entre a comunidade e a força policial, entre a população e o Estado.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

INTERAGINDO COM A COMUNIDADE



COMUNICAÇÃO SOCIAL DO 33° BPM

*Texto*: Sd Giliard
*Imagens*: Sd Priscila

Durante o policiamento ostensivo aquela parada para um bom futebol

Nesta sexta-feira (30/10) durante o Policiamento Ostensivo e Preventivo pelo Bairro Parque Joel, os soldados Menezes e Priscila do 33° BPM de Sapucaia do Sul receberam um belo convite.

Uma partida amistosa contra o time do bairro que já se aquecia no local.
Prontamente o pedido foi aceito onde o Sd Menezes participou da partida com mais 5 crianças, entre chutes e gols, os meninos foram orientados sobre os cuidados sobre o trânsito e receberam dicas de segurança.

E o resultado final? Bom, esse foi 10 x 0 para alegria, amizade e confiança.


terça-feira, 14 de abril de 2020

A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO TRÂNSITO EM IJUÍ.


Em 1973 eu tinha voltado do Curso de Técnica de Ensino, no Centro de Instrução Almirante Wandenkolk, da Marinha do Brasil (frequentado na sempre saudável e agradável companhia do Eugênio Ferreira a Silva Filho, sendo que conquistamos os primeiro lugares), fora promovido a Capitão e assumira a chefia da Seção Técnica de Ensino.
A gente tinha uma “panela”, que era constituída pelo CAIRO BUENO DE CAMARGO, pelo MAURO PINTO MARQUES, pelo EURICO NUNES DE OLIVEIRA e por mim. Como referi em outras oportunidades, almoçávamos junto, na mesma mesa e costumávamos, depois do almoço e até o início do expediente da tarde, a continuar juntos, reunidos na minha sala (STE) e, ali, em conversas longas e eivadas de entusiasmo e filosofia, a alimentar o sonho de salvar o mundo através do trabalho de uma briosa Brigada.
Aquele ano de 1973 foi pródigo em realizações e “invencionices” da panela (“invencionices” por conta de uns não muito afeitos a condutas e atividades que extrapolassem o mínimo necessário...). A partir daí se planejaram e se organizaram Cursos de Especialização em Policiamento para Oficiais - em um deles, o Cairo conseguiu emprestado por uma semana um helicóptero da Esquadrão Misto de Reconhecimento e Ataque, da FAB, sediado em Santa Maria -, um Curso de Técnica de Ensino, um trabalho junto às escolas visando a melhorar o nível das futuras inscrições para os Cursos, refazimento e adequação dos currículos dos Cursos de Formação, Aperfeiçoamento e Superior, um plano para Educação para o Trânsito em âmbito Nacional, além de outras atividades, todas elas além de nossas atribuições específicas.
Estes trabalhos e atividades serão cada um tema de uma crônica, focando hoje neste o Projeto de Educação para o Trânsito para escolas.
Abrindo um parêntese, refiro que no ano de 1967, ao ser transferido de Passo Fundo para a APM (CIM na época), verifiquei que não havia a disciplina de Trânsito no CFO. Consegui com o então Ten Mauro Carvalho, que tinha cinco aulas de Polícia nas manhãs das quartas-feiras, que ele me cedesse dois tempos a cada semana e, assim, organizei a matéria TRÂNSITO. Sobre este fato também comentarei em outro dia.
Pois em relação ao projeto de educação para o trânsito, passei a trabalhar, fora do horário de expediente, diretamente com a Fundação Padre Landell de Moura e a Secretaria de Educação do Estado, tendo sido conseguido o patrocínio do Café Dínamo. Como quarta à tarde não havia expediente e eu tinha pelo menos duas delas livres por mês - pois nas outras duas havia o trabalho com as escolas em visita à APM -, trabalhava nesses horários ora na Fundação, ora na Secretaria. Estruturou-se desta forma o projeto de Educação para o Trânsito, nascendo nele a dupla PMZITO E DINIMIM (em função do café Dínamo).
Foram escritos e impressos livros da 1ª à 5ª série e o Manual do Professor e, em função das modernidades de que se dispunha à época, foram usados slides em conjunto com uma fita cassete, ambos acionados simultaneamente em um aparelho que nem lembro o nome. Assim tínhamos som e imagem do conteúdo para apresentações e aulas, com o reforço dos exercícios contidos nos livros.
Conseguimos o lançamento da campanha de dentro da Secretaria, cujo titular era um Coronel da Reserva do Exército, de nome Mauro Rodrigues (parece-se ser este o sobrenome; afinal lá se vão 47 anos). Houve na ocasião a firme promessa de implantação das aulas a partir de 1974.
Acompanhando de perto as providências para esta implantação, o Cairo e eu sentimos que não a coisa não estava andando e, ainda, havia o furo em relação às escolas municipais.
Então decidimos, ele e eu, usar nossas férias – que seriam gozadas em fevereiro de 1974 – para promover a divulgação junto a Prefeituras.
Para isto, conseguimos algum patrocínio para despesas (gasolina, alimentação e hospedagem), organizamos um roteiro, fizemos contatos com Unidades e Destacamentos e embarcamos no meu carro, um Corcel ano 1972, placa AB-9099.
Visitamos mais de 20 cidades, onde fizemos palestras, acontecidas nos mais variados horários, sempre para um bom público, graças ao prestígio dos comandantes das OPM nos centros maiores e de nossos colegas comandantes de Destacamentos nos demais.
Em cada local o público se mostrava interessado... mas não passava disso, pois dos prefeitos e seus secretários de educação o que ouvíamos era que o plano anual estava pronto e que fariam o possível para incluir no segundo semestre.
Chegamos uma tarde em Ijuí, depois do almoço, pois pela manhã havíamos falado em Cruz Alta.
O Comandante do Destacamento de Ijuí era o então Tenente Jorge Ricardo Ascenço. Fiquei feliz em revê-lo, pois tinha sido meu aluno no CFO, inclusive da matéria de Trânsito. Conversamos, visitamos o local da palestra e conseguimos que um hotel nos acolhesse naquela tarde, para banho e troca de roupa, sem pouso, pois, assim que terminada a palestra, trocaríamos o uniforme pela ”xerga” de viagem, jantaríamos e seguiríamos para Santo Ângelo, onde dormiríamos.
À noite, fomos brindados com um ótimo público presente. Prestígio do Ascenço, sem dúvida. Terminada a palestra, fomos jantar um pouco frustrados, pois não tínhamos recebido qualquer sinal de interesse por parte da administração Municipal, e dali seguimos para o hotel, onde trocamos a roupa. Já estávamos saindo quando chegam o Prefeito e o seu Secretário de Educação: “Capitão”, diz-me ele, “queremos este projeto já.” Animados, sentamos em reunião na recepção do hotel, explicamos o funcionamento, detalhamos os contatos a serem feitos com a FEPLAM e deixamos uma unidade do aparelho com fita e slides, um kit completo dos livros “As Transas de Dinimim e PMzito no Trânsito”. Despedimo-nos e, desta vez felizes, seguimos adiante.
Continuamos o périplo pelo Rio Grande e completamos a volta pelo Rio Grande.
(Não posso esquecer de falar do velho Quirino Dias, que encontramos perto de Livramento, mas, como sempre, é outra história a contar.)
De todos os municípios visitados, apenas Ijuí pôs em execução, naquele ano de 1974, o projeto de forma integral. Alguns Municípios esparsamente usaram partes do plano, sem metodologia e persistência.
Bem, como referi, era o mês de fevereiro de 1974.
Em dezembro de 1.975 pedi a minha licença prêmio, passei a gozá-la e, ao seu término, entrei em licença para tratar de interesse particular, sendo que pedi a minha demissão em outubro do ano seguinte.
Pois em 1.993, - praticamente vinte anos depois da conversa com o Prefeito de Ijuí –, eu já morando em Passo Fundo, estava na sala da minha casa, a assistir TV. Era um domingo. Na abertura do programa Fantástico, Cid Moreira, com sua voz de barítono, vai mencionando as manchetes dos assuntos que seriam ali tratados. E uma delas era: “IJUÍ, no Rio Grande do Sul: a cidade mais educada no trânsito. É Fantástico!”
Eu sorri...
Cumpria-se ali, ainda que numa minúscula parte do mundo, aquilo que uns idealistas tinham imaginado quando tiravam de suas horas de folga tempo para pensar em como melhorar o que havia a sua volta. E tal como dizíamos, quando planejávamos, a educação haveria de ser a solução para um problema como o trânsito. Levou o tempo de uma geração para que uma cidade, com um prefeito interessado, viesse a se tornar exemplo para todo o País.
Minha homenagem ao querido Eurico Nunes de Oliveira, que foi retirado de nosso convívio muito cedo e de forma brutal; meu carinho com a admiração de sempre e a saudade que só os muuuuito veteranos sabem sentir de forma dolorida e silenciosa aos valorosos Cairo Bueno de Camargo e Mauro Pinto Marques. E a minha homenagem especial a minha querida e inesquecível Academia de Policia Militar da briosa Brigada Militar.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

TREINAR...TREINAR...E TREINAR

Treinar, treinar e treinar. Não há sorte no serviço policial e sim perícia e preparo técnico, físico e emocional.



  • Jorge Bengochea O preparo técnico, físico e emocional é o fundamento para o exercício do serviço policial para que a perícia não seja prejudicada.
  • Jorge Bengochea A perícia são o conhecimento, a liderança, a experiência e as habilidades necessárias a um policial para mediar conflitos, pacificar, interagir com a comunidade e enfrentar o crime.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

BAIRRO SEGURO

ZERO HORA 08/05/2018 - 17h57min

Aplicativo permite que clientes acionem segurança pelo celular para entrar e sair de casa
Plataforma digital criada por startup de Porto Alegre conecta usuários e empresas de proteção privada



Leticia Mendes



Ferramenta, criada por empresa gaúcha, está disponível em três Estados do país Inventsys / Divulgação


Minutos antes de sair de casa, o usuário de um aplicativo, criado por uma startup de Porto Alegre, pode pedir pelo celular que a equipe de uma empresa de segurança monitore o momento que ele deixa a residência. Para isso, bastam cliques. A ferramenta, que já vem sendo utilizada em Curitiba e Foz do Iguaçu, no Paraná, em Santos, no litoral paulista, Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, e alguns locais de Porto Alegre, promete tornar os bairros mais seguros por meio da segurança preventiva.


— Essa parte corriqueira, do dia a dia, que é a vigilância, a polícia não consegue fazer, esse trabalho preventivo. Esta é uma plataforma tecnológica que conecta moradores de bairros e condomínios com empresas de monitoramento. O principal uso é nos chamados de entrada e saída segura — explica Mário Verdi, diretor geral da Inventsys, responsável pela criação do Bairro Seguro.


Por meio de um pacote com custo mensal — que varia de R$ 19,90 a R$ 99,90 —, os usuários podem acionar a empresa de segurança, pelo app, para monitorar suas chegadas e saídas de casa. Com a contratação de serviço pelos moradores, a empresa também passa a fazer rondas no bairro. O aplicativo conta ainda com botão de pânico, que pode ser acionado em situações de risco, como quando o usuário percebe alguma movimentação suspeita em casa ou no entorno.


A ideia da ferramenta surgiu após a percepção de que a maioria dos apps de segurança privada estão voltados para a proteção patrimonial e que as pessoas se tornaram alvos dos criminosos em assaltos, que buscam roubar os bens, como automóveis. No ano passado, em Porto Alegre, foram registrados 8,4 mil roubos de veículos, segundo a Secretaria da Segurança Pública.


— Isto, deve-se, principalmente, pela evolução tecnológica nos dispositivos de proteção patrimonial, como rastreadores, sensores e câmeras inteligentes. O que ocorreu, de fato, foi que protegemos nossos bens, mas ficamos expostos. Viramos facilitadores do crime — constata Verdi.


O diretor-geral ainda afirma que o objetivo é reduzir a oportunidade de que seja cometido um crime. Ele acredita que quando o aplicativo é utilizado pelos moradores de um bairro acaba impactando na segurança em geral:


— A nossa ideia como empresa é fomentar a vida no bairro. Tentar tornar o bairro inteiro mais seguro. A gente quer primeiro permitir que o bairro tenha uma sensação de segurança maior, que as pessoas voltem para a rua. E segurança é sensação. Quando as pessoas se sentem seguras elas saem para a rua e quando mais gente ocupando mais seguro se torna.


O app foi testado em fase experimental em Porto Alegre, em dois bairros da Zona Sul, mas agora pode ser baixado em IOS e Android para ser utilizado nos bairros Menino Deus, Teresópolis, Santa Tereza, Cidade Baixa, Nonoai, Santo Antônio, Azenha, Glória e Medianeira. A atuação do aplicativo é territorial e deve ir avançando bairro a bairro. Atualmente, são cerca de mil usuários no país, mas a meta é levar a plataforma para 400 bairros em todo o Brasil, com 200 a 300 moradores atendidos em cada.

Como funciona
App foi testado inicialmente em dois bairros da zona sul de Porto Alegre Inventsys / Diovulgação


- Os usuários baixam o Bairro Seguro (disponível para iOS e Android) pela loja de aplicativos de forma gratuita. Cada pessoa escolhe seu plano, que conta com um limite de chamados de chegada e saída segura. O valor mínimo mensal é R$ 39,90 para residências, nos seis primeiros meses de uso, e R$ 19,90 para condomínios.


- A partir da contratação, a empresa fará rondas na área. A cada 300 moradores que contratam o serviço, é instalada uma unidade no bairro, com uma guarita. Os seguranças permanecem nesse local e dali partem para atender os chamados.


- Sempre que precisar, o usuário pode abrir o aplicativo e fazer um chamado. Ele solicita que um veículo da empresa vá até sua casa para que possa sair ou entrar em segurança. O veículo fica estacionado nas proximidades. O usuário monitora a chegada da equipe pelo celular.


- Os atendimentos são feitos sempre por empresas locais, com base na região, sob supervisão da equipe do Bairro Seguro. O painel de gerenciamento é inteligente e encaminha os chamados por proximidade do ponto de atendimento. Os moradores podem avaliar o atendimento pelo próprio aplicativo.

Rede de segurança colaborativa



Outro aplicativo também promete colaborar para alertar os moradores sobre situações suspeitas e de risco, além de permitir um mapeamento das ocorrências. O Be On é uma ferramenta digital de segurança, que está em funcionamento em todo o país. Em Porto Alegre na Região Metropolitana, 10 mil telefones estão cadastrados.


Ao mesmo tempo em que atende a população, o app pode ser acessado pelos órgãos de segurança para uma análise das ocorrências registradas. A ferramenta, disponível nas versões Android e iOS, funciona de forma colaborativa e permite apontar os locais mais críticos em incidência de crimes.


— A segurança de uma comunidade depende da consciência e da participação da sociedade — afirma Gustavo Caleffi, diretor da Squadra - Gestão de Riscos, empresa que desenvolveu o app.


A ferramenta tem entre as funcionalidades comunicar situações de perigo, ter acesso a telefones de emergência e usar chats com troca de mensagens com outros usuários. O aplicativo também serve para emitir alertas em acontecimentos como incêndios, acidentes de trânsito e desastres naturais.

domingo, 6 de maio de 2018

NOSSA ESTUPIDEZ




COMENTÁRIO DO BENGOCHEA. O POLICIAMENTO COMUNITÁRIO É UM TIPO ESPECIAL DE POLICIAMENTO OSTENSIVO. Para que este tipo de policiamento tenha o sucesso esperado por todos, é essencial que haja ma forte complementação com políticas sociais continuadas, legislação respeitada e a autoridade do Sistema de Justiça capaz de prevenir o crime, coibir, punir e dissuadir novos crimes, fazendo com que a própria comunidade acredite, confie e possa colaborar com a ordem pública através dos costumes.

"Não há um desejo comunitário de segurança. E quando as manifestações aparentam ser comunitárias, elas são capturadas pela radicalidade da direita e esquerda". Murillo de Aragão



REVISTA ISTO É, 04/05/2018

Nossa estupidez

MURILLO ARAGAO


Para Mauro Paulino, diretor do instituto de pesquisa Datafolha, a segurança pública será tema central das narrativas eleitorais esse ano, ainda que a economia continue a ter importância e influência no processo. Ele tem razão, porque a sensação de insegurança nas cidades aumentou, apesar de, paradoxalmente, terem surgido boas notícias aqui e ali.

Em São Paulo, por exemplo, houve queda significativa (de 5%) no número de homicídios dolosos em 2017, na comparação com o ano anterior. Na verdade, a taxa de homicídios no estado vem caindo consistentemente desde 2001, mas o ex-governador Geraldo Alckmin não conseguiu nem divulgar esses bons resultados nem fortalecer a sensação de segurança nas ruas.

Já os acontecimentos verificados no estado do Rio de Janeiro e em outros estados apontam para uma realidade dramática. Conforme levantamento do Instituto Paraná de Pesquisas divulgado em janeiro, para a imensa maioria dos brasileiros — 67,9%, para ser preciso — o nível de violência aumentou nos últimos anos.


No Rio de Janeiro, a violência urbana era crescente antes mesmo do Carnaval desse ano, quando se intensificou.
Nem mesmo a intervenção na segurança pública do estado, medida mais do que justificada tomada em fevereiro pelo governo federal, ainda que pontual e temporária, conseguiu diminuir a sensação de insegurança entre os cidadãos.

Assim, no debate pré-eleitoral, o tema vai ganhar corpo. Serão sugeridas iniciativas como a unificação das polícias, a criação de um organismo de inteligência de segurança pública, o fortalecimento da Força Nacional, a unificação das polícias militares em uma única força federal, entre outras.

Mas a questão que deveria ser debatida é que largas porções do nosso território não têm estado, nem governo, nem vigência de lei. Não há solução à vista, já que nem as elites — essas, quando não são corrompidas ou omissas, são delirantes em suas propostas politicamente corretas — nem a população em geral parecem interessadas na solução do problema para além da segurança pessoal.


No fundo, não há um desejo comunitário de segurança. E quando as manifestações aparentam ser comunitárias, elas são capturadas pela radicalidade da direita e esquerda, ambas autoritárias. Nossa omissão é nossa grande estupidez. Era assim também na Venezuela de Andrés Pérez e Rafael Caldeira. A elite, omissa e então interessada em produzir misses e ganhar dinheiro sem promover educação e emprego, deixou Hugo Chávez fazer o que fez. Foram viver em Miami. Deu no que deu.

Não há um desejo comunitário de segurança. E quando as manifestações aparentam ser comunitárias, elas são capturadas pela radicalidade da direita e esquerda

domingo, 15 de outubro de 2017

GOVERNO DO RS PROJETA DOBRAR BASES MÓVEIS DA BM

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Por ser itinerante, a base móvel contraria princípios da estratégia de policiamento comunitário: a continuidade, a permanência e o comprometimento com o local de trabalho. Deveria ser empregada como suporte aos policiais comunitários instalados de forma permanente nas comunidades. Por ser de proximidade, a estratégia de policiamento comunitário exige a fixação dos mesmos policiais nas comunidades para que se tornem conhecidos, se relacionem, conheçam perfeitamente o local de trabalho e aprimorem a confiança mútua entre as pessoas da comunidade, buscando soluções conjuntas.

GAUCHA ZH 13/10/2017

Marcelo Kervalt e Leonardo Lopes


Governo projeta dobrar bases móveis da BM em atuação no Estado. Proposta prevê que número de micro-ônibus aumente de nove para 18

Na sexta-feira, uma das unidades em funcionamento operava na Avenida Edgar Pires de Castro, na zona sul da CapitalAndré Feltes / Especial


A aproximação entre população e Brigada Militar (BM) por meio de bases móveis comunitárias entrará em nova etapa em 2018, quando o Estado promete dobrar a quantidade de veículos nas ruas. Mais nove viaturas serão agregadas ao projeto de policiamento, promovendo a expansão para cidades como Viamão e Alvorada. Porto Alegre tem quatro micro-ônibus e deve receber outras seis unidades.


Lançado em julho de 2016 pelo governador José Ivo Sartori, o projeto previa coletivos equipados com computadores ligados ao sistema Consultas Integradas — que possibilita pesquisar dados sobre pessoas, veículos e armas. Os coletivos têm cinco câmeras de monitoramento e nove telas que permitem o acompanhamento, inclusive, de imagens de outras câmeras espalhadas pela área de atuação. Conforme o coordenador-adjunto de polícia comunitária da BM, major André Marcelo Ribeiro Machado, os equipamentos não estão em operação.



— O que interessa para nós, da Brigada Militar, é a metodologia de trabalho. Com o micro-ônibus, a gente dá visibilidade ao policiamento, fica mais perto da população, consegue promover campanhas, palestras e outras ações programadas — comenta.


Os veículos existentes estão distribuídos, atualmente, na Capital, na Região Metropolitana e na Serra (leia quadro ao lado). Segundo o comandante-geral da corporação, Andreis Silvio Dal'Lago, os pontos são selecionados levando em conta estatísticas da criminalidade.


— As áreas escolhidas receberão investimentos em programas sociais para minimizar a violência. Serão espaços de recreação e centros de serviços. Como parte desta estratégia está a presença mais efetiva da Brigada Militar — explicou o major Ribeiro.



Patrulhamento em área determinada, mas sem data



Os policiais que atuarão nas bases móveis estão sendo capacitados para atendimento ao público, registro de ocorrências e para prevenção de crimes por meio de patrulhamento comunitário no perímetro de dois a três quilômetros ao redor do ponto de estacionamento do veículo. Não há uma data prevista para começo das atividades nem para aquisição dos veículos.


— Serão de seis a oito policiais que se revezarão em boa parte do dia.


Essa equipe terá motos à disposição.


O comandante será orientado a interagir com as lideranças da região para entender os problemas daquela comunidade — conclui o major.


DETALHE GAÚCHAZH - Em 2011, no governo Tarso Genro (PT), foi lançado o projeto Território da Paz. Com verbas do Ministério da Justiça, o projeto se propunha a reduzir os índices de violência e dar mais oportunidades de ensino, trabalho e lazer à comunidade, inicialmente nos bairros Bom Jesus, Restinga Velha, Lomba do Pinheiro e Cruzeiro, todos na Capital. A ideia acabou não dando certo.


Em Caxias do Sul, de projeto-piloto ao dilema

Na segunda maior cidade do Estado, iniciativa corre risco de se encerrarFelipe Nyland / Agencia RBS


Um impasse na parceria entre a prefeitura de Caxias do Sul e o governo do Estado coloca em dúvida a continuidade do policiamento comunitário na cidade que teve o projeto-piloto lançado há cinco anos e apostava na aproximação entre policiais e moradores para reduzir a criminalidade. A estratégia, outrora apontada como exemplo para o Estado, está prejudicada pela diminuição do efetivo policial ao longo dos anos e não há certeza do cumprimento dos objetivos na maioria dos bairros.


Ainda assim, a iniciativa mantém ampla aprovação popular e é apontada como o primeiro passo para uma cidade mais segura. Levantamento do jornal Pioneiro mostra que apenas nove dos 24 núcleos de policiamento comunitário funcionam plenamente e realizam trabalho preventivo em bairros e loteamentos da segunda maior cidade do RS — no município, conforme a BM, há uma base móvel comunitária.


A maioria dos moradores compreende as dificuldades da BM e evita criticar o programa com receio de que gestores públicos usem isso como argumento para dar fim à iniciativa. Ou seja, se no presente ainda não é possível contar plenamente com PMs atuando e residindo nos bairros, as comunidades defendem que esse seja o cenário do futuro.


A popularidade do policiamento comunitário, inclusive, parece ser a explicação para que governo estadual e prefeitura evitem críticas ao programa. Nos bastidores, no entanto, as administrações do governador e do prefeito Daniel Guerra (PRB) resistem em encontrar soluções para o projeto. A falta de ações de ambos os lados resultou no vencimento — em 17 de setembro — de um dos três convênios do programa e gera incertezas sobre o futuro do policiamento comunitário. Quem garante a continuidade do projeto é a própria Brigada Militar.


O comandante-geral da corporação, coronel Andreis Silvio Dal'Lago, salienta que, além de uma estratégia de atuação, o policiamento comunitário é uma filosofia de trabalho.


EM 2016.....


ZERO HORA - 30/07/2016

Bases móveis comunitárias da Brigada Militar não funcionam como prometido pelo governo do Estado. Discurso no lançamento foi de que micro-ônibus teriam câmeras acopladas e telas de monitoramento. Agora, BM contesta promessa




Marcelo Kervalt


Base Móvel Comunitária de Novo Hamburgo fica no bairro Santo Afonso, em frente à Praça da Juventude, e na Rua AlvearLauro Alves / Agencia RBS


Elogiado por especialistas em segurança pública, o projeto Bases Móveis Comunitárias da Brigada Militar (BM) enfrenta problemas operacionais já no primeiro mês de atuação. Dos quatro micro-ônibus prometidos pelo governo do Estado para reforçar o policiamento em áreas conflagradas da Região Metropolitana e no Vale do Sinos, nenhum atende ao que foi anunciado no lançamento da ação, há 25 dias, em Porto Alegre, com a presença do governador José Ivo Sartori.


No discurso, os coletivos seriam equipados com computadores ligados ao sistema Consultas Integradas – que possibilita pesquisar dados sobre pessoas, veículos e armas – cinco câmeras de monitoramento e nove telas que permitiriam o acompanhamento, inclusive, de imagens de outras câmeras espalhadas pela zona de atuação. Na prática, não é o que acontece.


Zero Hora visitou as quatro bases móveis – duas em Porto Alegre, uma em Novo Hamburgo e outra em Canoas – e constatou que apenas o bairro Rubem Berta, na Capital, conta com a estrutura anunciada no dia 7 deste mês. Ainda assim, nessa base, câmeras e monitores estão impedidos de funcionar por conta de incompatibilidade entre o sistema elétrico do veículo e a rede de energia externa.


– Nada funciona. Só o que pega é o ônibus mesmo – disse um soldado diante dos monitores, todos desligados.


Nos outros três pontos, são utilizados micro-ônibus que possuem apenas um notebook conectado à Internet. O bairro Santa Tereza, também na Capital, até chegou a receber o veículo prometido, mas, por problemas elétricos, foi substituído no dia seguinte à inauguração do programa. Em Canoas e Novo Hamburgo, os coletivos anunciados nunca chegaram. A BM, nesses municípios, emprega no projeto veículos dos próprios batalhões, que não têm câmeras ou monitores.


E, apesar da pompa com que o veículo-modelo foi apresentado no início do mês, agora a BM alega que o projeto não prevê ônibus equipados para monitoramento em vídeo em todas as bases


– O micro-ônibus (comum) cumpre a finalidade – disse o comandante da BM em Novo Hamburgo, tenente-coronel Marcel Vieira Nery.


– Planejamos as ações com o recurso que temos – complementou o comandante da corporação em Canoas, tenente-coronel Eduardo Amorim.


Especialistas aprovam iniciativa, mas cobram aplicação plena


Além dos coletivos, as quatro bases contam ainda com viaturas de apoio e 10 policiais militares (PMs) que se revezam em turnos de 12 horas. Nas visitas, a reportagem encontrou pelo menos dois brigadianos em cada base. Os demais, segundo os coordenadores, estariam em rondas pelo bairro com os veículos de suporte. Nessas patrulhas, os PMs ouvem reclamações, orientações e denúncias de moradores e comerciantes. Com os dados em mãos, são programadas visitas constantes aos locais indicados pela população, como pontos de tráfico.

Quando bem aplicado, o conceito de polícia comunitária é considerado promissor por especialistas como a professora do Departamento de Sociologia da UFRGS e integrante do grupo de pesquisa Violência e Cidadania Letícia Maria Schabbach.

– O caminho a seguir é esse. Reuniões com moradores e líderes comunitários deixam a população mais próxima da Brigada Militar. Isso é eficaz. Segurança pública não é só responsabilidade da polícia. Apoio a filosofia de que quanto mais atores estiverem envolvidos, melhores serão os resultados. Mas os policiais precisam ser amparados por bons equipamentos e tecnologias condizentes com a necessidade – disse Letícia.

O coordenador do Núcleo de Segurança Cidadã da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma), Eduardo Pazinato, que também é associado pleno do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, lembra que a metodologia de polícia comunitária é referenciada internacionalmente, por estimular a aproximação do Estado com a população:

– Essas bases dialogam com dois conceitos: estabelecimento de uma relação de confiança mútua e fortalecimento da presença do governo em regiões violentas, atuando na repressão e prevenção. E as câmeras de monitoramento nas bases são grandes aliadas, quando funcionam.


ZH visitou as quatro bases ao longo da semana. Veja como estão:


População pede horário de funcionamento ampliado


A eficácia das bases móveis comunitária não é consenso nas comunidades onde estão inseridas, principalmente em razão do período de funcionamento, considerado insuficiente por alguns moradores. Quem contesta o projeto, argumenta que os policiais deveriam permanecer até o avançar da noite, quando a criminalidade eclode. Proprietária de um mercado na Rua Caçapava, bairro Mathias Velho, em Canoas, a comerciante Vera Lúcia Malaquias diz não ter percebido a diminuição da violência na região:

– Para falar a verdade, não vi diferença nenhuma. O certo seria eles ficarem à noite também, que é o período mais perigoso. Esses dias tentaram me assaltar quando estava escuro, bem onde o micro-ônibus está hoje (terça-feira), mas, naquele horário, não tinha mais ninguém.

No bairro Santa Tereza, na Capital, moradores da Rua Bernardino Caetano Fraga contam que uma jovem foi espancada e assaltada no dia seguinte ao lançamento do projeto. O crime teria acontecido a 100m de onde deveria estar o micro-ônibus. Na área de atuação da mesma base, Alexandre Gonçalves, 33 anos, foi morto a tiros no dia 13 deste mês, em frente à UniRitter, ponto de estacionamento do coletivo. O corpo da vítima foi encontrado pela BM por volta das 6h40min.

Na Rua Dom Helder Câmara, Ítalo Augusto Silva dos Santos, 22 anos, e uma adolescente, Nicole Kemerich, 15 anos, estavam parados em uma esquina quando foram mortos a tiros por pessoas em um carro vermelho. Além deles, outras três pessoas foram encaminhadas ao Hospital Cristo Redentor. Uma delas, identificada como Letícia da Silva Gurska, 29 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu. O crime aconteceu no dia 18 deste mês, a menos de um quilômetro da base móvel do Rubem Berta, por volta das 21h30min, horário em que o micro-ônibus não fica no bairro. Conforme o comandante-geral da BM, coronel Alfeu Freitas Moreira, o foco do programa é o policiamento preventivo:

– Os comandos locais diagnosticaram os horários mais propícios para a consecução de tal objetivo.

O tempo ideal de funcionamento das bases não é unanimidade entre especialistas. O ex-secretário nacional de segurança pública e coronel da reserva da PM de São Paulo José Vicente da Silva Filho diz que o horário precisa ser estipulado conforme a necessidade local, mas que não deve se estender além das 22h:

– Muitas vezes, a população confunde falta de policiamento com medo. A gente sabe que os bandidos têm hábitos noturnos, por isso o ideal é avançar até as 22h, mas não mais do que isso. Os bandidos também dormem de madrugada, e o patrulhamento nesse turno não cabe à polícia comunitária, que é de complemento às ações ostensivas.

Eduardo Pazinato, associado pleno do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, tem entendimento semelhante:

– É um espaço de referência para registro de ocorrências e identificação de situações que merecem atenção.

Para a socióloga Letícia Maria Schabbach, o recolhimento dos policiais logo após o pôr do sol deveria ser revisto.

– Não sei até que ponto é possível, mas o certo seria ampliar para a noite, até porque há escolas com ensino médio e EJA (Educação de Jovens e Adultos) funcionando até mais tarde.


Comunidades se dividem entre reclamações e elogios


Além da questão do horário de funcionamento, há quem diga que os pontos de tráfico e assalto apenas mudaram de endereço, estabelecendo-se em áreas periféricas aos micro-ônibus.

– Aqui, na praça, melhorou. Mas as pessoas agora são assaltadas em outros lugares do bairro. Ou quando a BM não está – reclamou a estudante Mirela Schilling Motta, 22 anos, moradora do bairro Rubem Berta, em Porto Alegre.

– A migração da criminalidade já era esperada. Estamos enfrentando isso através da Operação Avante e com trabalho continuado dos batalhões de área, com foco nas abordagens qualificadas – argumentou Freitas.


Apesar das críticas, há quem comemore a iniciativa:


– Melhorou 100%. Antes essa praça era muito agitada. Drogas e mais drogas. Agora a gente vê a tranquilidade. Por medo, eu trabalhava com a grade fechada. O único problema é que eles (policiais) ficam só de manhã aqui – opinou Laudir Francisco Chavier da Silva, 55 anos, comerciante e morador da Rua Carmelita Grippi, bairro Rubem Berta, na Capital.

Em Novo Hamburgo, no bairro Santo Afonso, o empresário Adair Rodrigues da Silva, de 40 anos, também é defensor da recém lançada estratégia da BM:


– (A presença do micro-ônibus) deixa a gente bem mais tranquilo. A região melhorou muito. Está mais segura.


ENTREVISTA: Cel Alfeu Freitas Moreira, Cmt Geral BM


"O objetivo principal é ser referência na comunidade", diz comandante-geral da Brigada Militar


Segundo o coronel Alfeu Freitas Moreira, comandante-geral da Brigada Militar (BM), o objetivo das bases móveis comunitárias é ampliar a atuação da corporação junto à população abrangida por meio de ações de polícia ostensiva em um raio de ação delimitado:

– Caracteriza-se por ações preventivas no comércio, nos estabelecimentos de ensino, nos postos de saúde, nos postos de combustíveis, nas áreas residenciais, enfim, em uma série de locais que por suas características possam levar ao evento crime.

O oficial afirmou que há um crescente número de solicitações da comunidade para a instalação de novas bases em outros bairros e cidades, e que essa possibilidade está sendo estudada. Por e-mail, o coronel deu explicações sobre os problemas encontrados pela reportagem durante visitas às bases móveis.

Uma incompatibilidade entre o sistema elétrico do micro-ônibus destinado ao bairro Rubem Berta e a fonte de energia externa impede funcionamento dos equipamentos eletrônicos, como câmeras e monitores. Isso não foi previsto?

O ônibus é configurado para rede trifásica de energia, necessitando uma adaptação à rede pública. Importante ressaltar que essa falta de adequação não inviabiliza o trabalho das bases móveis, pois o objetivo principal é ser uma referência na comunidade, com foco nas ações de prevenção no entorno dos locais de instalação.

O telefone funcional da mesma base não estava funcionando entre segunda e quinta-feira. Quando será consertado?

Soubemos desse problema e estamos interagindo com o comando do 20º Batalhão de Polícia Militar (BPM) para resolver. Deve-se salientar que a via de comunicação telefônica com a BM é o 190, que nos permite planejar ações, inclusive quantificando chamados e fazendo a mensuração da eficácia do serviço.


Diariamente, um micro-ônibus com as características dos prometidos às bases móveis fica estacionado no Parque da Redenção, na Capital, em frente ao Auditório Araújo Vianna, enquanto que apenas um dos pontos do projeto conta com veículo semelhante até agora.
(O veículo no parque) Existe em razão da iniciativa do comando local, face às ocorrências registradas naquela região, que é o entorno da UFRGS, entre outras demandas.


Apenas o bairro Rubem Berta, em Porto Alegre, recebeu, de fato, o micro-ônibus apresentado no dia do lançamento do projeto, com câmeras acopladas e monitores. No Morro Santa Tereza, também na Capital, um similar ficou apenas um dia, estragou e precisou ser substituído por outro comum. Novo Hamburgo e Canoas não receberam os veículo prometidos. Há previsão para que isso ocorra?
O ônibus do bairro Santa Teresa precisou de alguns ajustes de ordem técnica e retornará ao local. As bases móveis são compostas por ônibus que possibilitam o registro de ocorrências, nem todos os veículos têm câmeras acopladas.


Comando da BM contesta promessa de câmeras


Após responder por e-mail perguntas de ZH, o comandante-geral da BM, coronel Alfeu Freitas Moreira, telefonou à reportagem para acrescentar informações. O oficial afirmou que, embora um micro-ônibus moderno, com câmeras e monitores internos para acompanhamento das imagens, tenha sido a grande atração da cerimônia de lançamento das bases móveis comunitárias, com a presença do governador José Ivo Sartori, no dia 7 deste mês, o projeto não prevê que todas as quatro bases disponham de veículos semelhantes.


– Aquele micro-ônibus foi utilizado no dia (do lançamento) porque era o melhorzinho que nós temos – explicou Alfeu.


De acordo com o comandante, a corporação ganhou três desses coletivos por meio de um programa do governo federal, o qual não soube especificar, há cerca de quatro anos. O coronel afirmou que o uso em algumas das bases móveis teve a finalidade de dar utilidade aos veículos, que estavam parados.


Ação reforça aposta em polícia comunitária



O conceito de polícia comunitária, com as bases móveis, vem sendo implantado pela Brigada Militar (BM) desde a década de 1970, conforme o associado pleno do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Eduardo Pazinato. Em 2011, durante o governo Tarso Genro, a estratégia ganhou destaque como uma das principais iniciativas que integravam os Territórios de Paz, criados em 2011. Cinco anos depois, o programa, que ainda existe do ponto de vista burocrático, fracassou por falta de verbas federais e, em uma visão realista, foi abandonado.


– O Território de Paz não teve o alcance que se esperava. Demandava um esforço mais amplo do que foi feito, pois contemplava muitos projetos sociais que, na prática, não se desenrolaram. O que ficou de bom foi a polícia comunitária – avaliou Pazinato, que geriu o recurso do Território de Paz canoense entre 2011 e 2012, quando foi secretário de Segurança Pública no primeiro mandato do prefeito Jairo Jorge


– As bases móveis começaram a ser introduzidas com o Território de Paz. O que há agora é uma continuidade, pois o policiamento comunitário é um dos projetos sob o seu guarda-chuva. Então, se olhar pelo lado da polícia comunitária, não posso dizer que não deu certo – complementou a socióloga Letícia Maria Schabbach, integrante do grupo de pesquisa Violência e Cidadania da UFRGS.
Território de Paz do bairro Restinga, em Porto AlegreDiego Vara / Agencia RBS


A Secretaria da Segurança Pública (SSP) diz que as atividades dos Territórios de Paz não acabaram, mas que foi restabelecida a autonomia funcional para a BM e Polícia Civil. Desta forma, o controle sobre os efetivos retornou aos comandantes de batalhão e aos delegados responsáveis pelas áreas. Os prédios que eram ocupados pelo programa pertencem, em sua maioria, a centros comunitários e associações de bairro. Esses imóveis foram ou estão sendo devolvidos às entidades.


Sem prazo definido, a SSP planeja construir quatro bases comunitárias, uma em cada território, onde deverão ser desenvolvidas as atividades de polícia comunitária, com atuação conjunta de Polícia Civil, BM e Guarda Municipal.


O Territórios de Paz foi implementado em áreas conflagradas do Estado, onde o índice de homicídios era muito alto. O objetivo era reprimir a violência nestes locais e oferecer projetos sociais. A verba era oriunda do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), criado em 2007 pelo próprio Tarso, quando foi ministro da Justiça no governo Luiz Inácio Lula da Silva. No primeiro mandato de Dilma Rousseff, o projeto foi engavetado.

RELÓGIO BIOLÓGICO. MUDANÇA DE HORÁRIO PODE CAUSAR ESTRESSE E ERROS NA TOMADA DE DECISÃO




GAUCHAZH 13/10/2017




Guilherme Justino

Nobel de Medicina dá o recado: preste atenção no seu relógio biológico. Premiação deste ano soou o alarme para que mais pessoas tenham consciência da importância desse mecanismo no decorrer da vida



Na era digital, da aviação comercial e de noites que viram dias, chegou a hora de reconhecer a importância do relógio biológico. Esse sistema inato ao corpo humano — e a todos os seres vivos —, que se regula conforme a percepção da presença ou ausência da luz solar, é responsável por determinar a disposição diária para todas as atividades, do trabalho às relações sociais, da alimentação ao sono. É o que faz alguém cair de rendimento à noite, bocejar por horas se acorda muito cedo e ficar geralmente mais atento ao longo do dia: um eterno ciclo de 24 horas que, se não respeitado em seu devido tempo, pode comprometer a saúde.


O Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia deste ano, entregue a três pesquisadores norte-americanos, soou o alarme para que mais pessoas tenham consciência da importância desse mecanismo no decorrer da vida. A existência de algum tipo de sistema interno que leva à repetição de certos fenômenos biológicos em determinadas horas do dia já era conhecida de longa data. Pelo menos desde 1729, quando o astrônomo francês Jean Jacques d'Ortous de Mairan observou que as folhas de um gênero de plantas se abriam e fechavam na mesma hora do dia, mesmo quando colocadas em um quarto escuro — o que sugeriu a existência de um relógio biológico.


Os nobeis Jeffrey C. Hall, Michael Rosbash e Michael W. Young foram os responsáveis por descobrir, séculos depois, os mecanismos moleculares que controlam o ritmo biológico nos seres vivos, o chamado ritmo circadiano. Se pensarmos que o organismo funciona como um relógio cuco, podemos dizer que eles encontraram o mecanismo que move os ponteiros e anuncia o passar de cada hora com o canto da ave. A pesquisa que revelou esse funcionamento foi publicada na década de 1980, mas só agora reconhecida com uma das maiores premiações da ciência mundial. Será que a distinção não chegou com algum atraso?


— Ritmos circadianos têm sido estudados principalmente desde a década de 1970, então formam um campo ainda novo. Muitos de fora dessa área não sabem quão importante isso é para todos, para toda a biologia e a medicina. Fiquei positivamente surpreso ao ver esse Nobel: não esperava que fosse chegar tão cedo. Essa distinção vai acelerar o conhecimento dos ritmos circadianos para as discussões públicas e científicas, o que vai ser bom para todo mundo — comemora o neurobiólogo Benjamin Smarr, pesquisador pós-doutorando no Departamento de Psicologia e Neurociência da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos.

Luz artificial e prejuízos para a saúde


O neurobiólogo Benjamin Smarr destaca que saber mais sobre o relógio biológico é especialmente importante na contemporaneidade, quando a invenção da luz elétrica e a profusão de itens que emanam uma iluminação própria contribuem para dificultar a percepção do corpo sobre o ciclo claro-escuro. Já não é mais o raiar do dia que nos alerta para a necessidade de acordar, nem o escurecer noturno que nos leva a sempre buscar o descanso. Agora há alarmes, ambientes iluminados, atividades sendo realizadas durante as 24 horas.


— Nossas vidas modernas são muito disruptivas para os ritmos circadianos. Luz à noite, smartphones, alimentação noturna e alarmes provocam um "jet lag social" e nos causam males ao longo da vida — avalia o Ph.D. em neurobiologia.


Portanto, não é de se estranhar relatos de dificuldades para pegar no sono quando, minutos antes de ir para a cama, ficamos acostumados a estar em ambiente iluminado por lâmpadas, com televisores ligados, computadores e smartphones emitindo luz artificial bem diante dos olhos — tudo isso enquanto o corpo, preparando-se para o repouso, espera a escuridão.


— A exposição à luz artificial à noite é prejudicial porque inibe a produção de melatonina. Esse hormônio sinaliza ao corpo que é noite e favorece o sono. Dessa forma, olhar essas telas à noite pode acarretar, a longo prazo, diversos distúrbios de sono e suas consequências para a saúde — afirma Gisele Akemi Oda, coordenadora do Laboratório de Cronobiologia da Universidade de São Paulo (USP).


O descompasso entre o ciclo de iluminação que o corpo espera e aquele a que realmente acaba sendo exposto preocupa principalmente porque provoca alterações que podem impactar no desenvolvimento de problemas físicos e mentais. Ter poucas horas de sono, comer em horários desregulados, praticar atividades físicas logo antes de (tentar) dormir e levar os estudos madrugada adentro são alguns exemplos de questões que resultam em um desajuste no relógio biológico. Desajuste esse que representa um baque significativo para o sempre tão certinho ritmo do corpo.


Luz à noite, smartphones, alimentação noturna e alarmes provocam um "jet lag social" e nos causam males ao longo da vida. Benjamin Smart, neurobiólogo


— A eficiência de todas as atividades fica comprometida, com consequências para a própria saúde, quando uma pessoa se alimenta em uma fase em que o sistema digestório não está programado para ter maior eficiência, quando é exigida atenção em uma fase associada ao sono, quando ela se exercita em uma fase associada ao repouso — garante Gisele Oda.


Segundo a coordenadora do Laboratório de Cronobiologia da USP, complicações cardiovasculares, obesidade, incidência maior de acidentes e depressão estão sendo cada vez mais associadas ao trabalho noturno — fora do padrão predominantemente diurno do organismo humano para aquelas ações que exigem mais esforço.


Há décadas estudando a área conhecida como cronobiologia humana, Fernando Mazzilli Louzada explica que o descompasso ocorre porque o corpo, ao longo de toda a evolução, foi se preparando para caçar e comer enquanto há luz do sol, e para descansar quando a escuridão predominava. A constante disrupção desse padrão na atualidade provoca alterações no metabolismo — o que pode levar ao surgimento de doenças como diabetes, alterações na pressão arterial e também problemas psiquiátricos.


— Para o corpo, ficar exposto rotineiramente à desorganização do próprio ritmo leva a problemas de saúde que poderiam ser evitados com mais conhecimento e cuidado — diz Louzada, professor do Departamento de Fisiologia e coordenador do Laboratório de Cronobiologia Humana da Universidade Federal do Paraná (UFPR).


Isso não quer dizer que se alimentar de madrugada, correr em plena noite ou dormir a tarde inteira vão necessariamente causar problemas de saúde: as pesquisas alertam para o fato de que, se não tomados alguns cuidados — como respeitar os próprios limites, repousar quando o corpo pede e manter uma alimentação equilibrada, especialmente para quem segue rotinas desreguladas —, os efeitos podem passar do mero desconforto e, quando aliados a outros fatores, contribuir para o desenvolvimento ou dificultar o controle de doenças graves.

Dificuldade de ajustar os ponteiros


— Quem trabalha durante a noite precisaria evitar completamente a luz do sol durante o dia, até mesmo nas folgas, para que o corpo se adaptasse a esse horário. Isso, claro, é para poucos — problematiza Michael Gorman, especialista em ritmos circadianos de mamíferos que estuda como melhorar a adaptação humana ao trabalho noturno e ao jet lag.


Para o pesquisador do Centro de Biologia Circadiana da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos, quanto mais se afasta do que o corpo espera, mais difícil é acostumá-lo a enfrentar algumas situações. Dormir até algumas horas depois de o Sol raiar e se exercitar ao cair da tarde não vão provocar alterações tão significativas quanto trabalhar dia após dia de madrugada. Gorman garante que o diferencial está na exposição à luz solar: se alguém que precisa acordar mais cedo se coloca rotineiramente diante do Sol matinal, pode acabar acostumando o corpo à mudança, ainda que anteriormente a preferência fosse por dormir até mais tarde.


O problema é que muitas rotinas se perdem nos fins de semana. O merecido descanso que dá direito a acordar quase na hora do almoço aos sábados e domingos representa um choque para o organismo, que não entende por que, ao longo de cinco dias da semana, deve funcionar de uma maneira e, nos outros dois, tem que mudar tudo de novo. Eis aí a maior dificuldade de ajustar os ponteiros do próprio relógio biológico: se a rotina laboral é uma e a de dias de folga é outra, a adaptação fica prejudicada.


Matutinos x vespertinos


O coordenador do Laboratório de Cronobiologia Humana da UFPR, Fernando Louzada, acredita que não existe adaptação do ritmo circadiano. Para ele, ou funcionamos melhor de manhã cedo ou preferimos a tarde — o que dividiria a sociedade entre os cronotipos matutino e vespertino. Ainda que haja diferença entre os horários mais adequados para determinadas atividades de pessoa para pessoa, o organismo humano não estaria preparado para uma mudança tão drástica no seu padrão evolutivo quanto passar com frequência a noite inteira acordado.


— A palavra "adaptação" não tem como ser usada: existe maior ou menor tolerância com esses horários. O corpo não foi feito para trabalhar (com carga máxima) à noite. Não há adaptação quando temos uma constante desorganização dos ritmos — estima o pesquisador.


Para quem não tem opção e precisa realizar atividades desgastantes nos horários em que o corpo preferiria estar dormindo, algumas dicas para aumentar a tolerância do organismo incluem manter uma alimentação mais leve — já que o organismo tem menor capacidade de digestão à noite —, evitar a exposição direta à luz solar na hora em que é possível descansar e dormir bem, de preferência em um ciclo único, e não com cochilos esparsos.

O que é afetado pelo ritmo circadiano

Aprendizagem e memória: as horas mais adequadas variam de pessoas para pessoa, mas sabe-se que é mais eficaz aprender durante a manhã ou a tarde. A atividade cerebral varia conforme o relógio muda, e não há período de menor capacidade de concentração que durante a madrugada.

Envelhecimento: conforme os anos passam, o corpo tem mais dificuldade de manter as engrenagens de todos os relógios biológicos das células. Envelhecer envolve também maior predisposição a problemas de metabolismo, que acaba ficando mais lento.

Jet lag: trocar de fuso horário muito rapidamente — algo comum em viagens longas pela aviação comercial — leva a um desalinhamento do relógio interno. Quando a hora do dia muda de maneira forçada, é comum se sentir mais sonolento. Uma variação desse fenômeno acontece quando se volta a acordar cedo depois de um fim de semana dormindo até tarde.

Nutrição: não apenas o sono é controlado pelo relógio interno: também a fome surge nos horários em que o organismo mais está acostumado e disposto a fazer a digestão. E, quanto mais tarde, menor costuma ser a capacidade de absorver os nutrientes adequadamente.



Conheça o perfil do seu relógio biológico e viva melhor. A desregulação do seus ponteiros internos pode ser a causa de noites mal dormidas, quilinhos a mais, da falta de paciência e até doenças emocionais


Bruna Scirea




O relógio ainda nem marcou 22h, e ele já está se preparando para dormir. É bem o horário em que ela está com a corda toda, querendo puxar conversa, assistir a um filme, planejar o dia seguinte, a semana, o mês, o ano. Cheio de sono, ele mal ouve o que ela tem a dizer. De manhã, a cena se inverte: lá está ele cantarolando no chuveiro, liga a televisão para sair de casa informado, reclamando de alguma coisa, falando sem parar. Ela fica só se perguntando de onde alguém tira tanta energia e assunto logo no início do dia.


Nossa vida é ajustada de acordo com as horas cronometradas nos relógios de pulso, na tela do celular, no painel do carro ou nos equipamentos instalados em paredes e movimentadas esquinas. São 22h para ele, assim como são 22h para ela. Só que existe um tempo que é interior a cada um, que rege o organismo de uma maneira bastante particular. Para além das horas convencionais, é o relógio biológico que determina se você é daqueles que acorda às 6h cheio de energia para gastar, ou se faz parte do grupo dos que se levantam às 11h implorando por mais uns minutinhos de sono.


O chamado relógio biológico é um sistema composto por vários relógios espalhados pelo corpo, controlados por um marca-passo que fica no cérebro. E o que fazem esses relógios internos? Um monte de coisa: são responsáveis pelo controle dos ritmos biológicos, geneticamente predefinidos, que regulam os horários de dormir, acordar, comer, ir ao banheiro, liberar hormônios, entre tantas outras funções diárias.


– Este sistema regula o nosso tempo interno e o ajusta conforme o tempo externo. A partir da luz, ele faz com que o organismo entenda que a cada 12 horas existe o claro ou o escuro. E, a partir disso, ele sincroniza todas as funções do corpo de forma encadeada. Não à toa, por exemplo, os hormônios são liberados de forma rítmica. Pela manhã, sou acordada devido a uma carga de cortisol. À noite, no escuro, é produzida a melatonina, o hormônio do sono. Da mesma forma são reguladas a temperatura do corpo, a pressão arterial e todas as demais atividades fisiológicas – explica Claudia Moreno, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Departamento de Cronobiologia da Associação Brasileira do Sono (ABS).


Os cronotipos


Dentro da cronologia, ciência que passou a ser estudada principalmente a partir da década de 1960, a complexa engrenagem que existe dentro de cada um faz com que a população se divida em alguns cronotipos, como são chamados os perfis dos relógios biológicos. Boa parte dos especialistas trabalha com três categorias, baseadas principalmente nos horários de dormir e acordar, uma vez que a liberação da melatonina (o hormônio do sono) funciona como um abre-alas para o desencadeamento de todas as demais funções.


Os matutinos representam 10% da população e são os que preferem acordar cedo, ficam sonolentos quando passa do horário de dormir (geralmente às 21h) e apresentam melhor desempenho no período da manhã. Os vespertinos, parcela que reflete outros 10% dos indivíduos, são os que estão mais dispostos por volta das 20h, preferem dormir tarde e têm dificuldade para acordar cedo. Devido à rotina, costumam ter menos horas de sono do que deveriam, e usam o fim de semana para reabastecer as energias. Os intermediários são a maioria (cerca de 80% da população) e conseguem se ajustar aos horários com maior facilidade do que os outros dois grupos.


Agora, pense na sua rotina: seria possível respeitar a engrenagem que existe em você? Dormir, acordar, ir ao banheiro, fazer sexo, comer, discutir o relacionamento e trabalhar nos horários em que o seu corpo está mais propenso para cada atividade? Se sim, comemore. Seguindo o "timing" correto do seu corpo, você terá desempenho máximo em tudo o que fizer, levará uma vida mais leve e longeva.


Só que essa é uma condição rara. Provavelmente a sua resposta para essas perguntas é um desanimador "não". É, a vida social nos impõe uma agenda própria que dificilmente pode não ser cumprida. Até aí tudo bem, o temporizador interno se ajusta a algumas situações. Agora, se o seu relógio estiver totalmente dessincronizado (como é o caso de trabalhadores noturnos e pessoas que estão constantemente viajando e alterando o fuso horário), preste atenção! Essa pode ser a causa das noites mal dormidas, dos quilinhos a mais, da falta de paciência com as tarefas do trabalho e até mesmo de doenças emocionais, como a ansiedade e a depressão.


Siga seu cronotipo e viva melhor


Você já deve ter lido reportagens e livros sobre o que e como fazer para ser bem-sucedido. "Como perder peso?", "O que comer?", "Como agradar o parceiro na cama?" são algumas das questões levantadas com certa frequência. Recentemente, um psicólogo norte-americano, Michael Breus, lançou um livro trazendo uma nova pergunta, cuja resposta, segundo ele, deve ser a chave para uma vida com mais qualidade: "Quando?".


Na obra O Poder do Quando (Editora Fontanar), nas prateleiras do Brasil desde a metade de fevereiro, o especialista em medicina do sono defende pequenos ajustes nos horários das tarefas diárias – como quando tomar uma xícara de café ou a melhor hora do dia para responder um e-mail –, adaptando-as ao relógio biológico (cronotipo) de cada um. Sincronizando o ritmo do dia com o ritmo da biologia, garante Breus, você poderá tirar o melhor de si e de seus relacionamentos.


– Para todas as atividades, sabemos que, quando feitas na hora certa, serão feitas melhor – afirma Breus, em entrevista concedida a Zero Hora por e-mail.


Incomodado com as limitações dos três cronotipos que boa parte dos especialistas adotam, o psicólogo desenvolveu uma categorização própria, inspirada em comportamentos de quatro mamíferos: golfinhos, leões, ursos e lobos. Conheça.


Como funciona o relógio biológico




1. O cronomestrista do corpo é o seu marca-passo circadiano, também conhecido como relógio biológico: um grupo de nervos chamado núcleo supraquiasmático, localizado no hipotálamo, logo acima da hipófise. Ele dá ordem a todos os ritmos biológicos do seu corpo.


2. Este temporizador é sincronizado principalmente pela luz solar, que o informa se é dia ou noite. De manhã, a luz do sol atravessa os globos oculares, percorre o nervo óptico e ativa este núcleo para recomeçar o ritmo circadiano (que compreende mais ou menos o período de 24 horas). Está sinalizado que é dia.


3. A partir da sincronização do temporizador, uma série de outros relógios começa a operar de forma encadeada. É como uma orquestra funcionando com vários instrumentos em sintonia. Por exemplo: de manhã ocorre a liberação do hormônio cortisol, e é por isso que você acorda. A temperatura do corpo sobe, a pressão corporal e o peso variam ao longo do dia, e hormônios, como o da fome e da saciedade, são liberados conforme esses relógios ordenam. Durante a tarde, a temperatura corporal diminui e se inicia novamente a preparação para dormir.


4. Quando está escuro, a intensidade de luz que chega aos nervos do núcleo supraquiasmático informa que é noite. Nessas condições, entra em ação a glândula pineal, responsável pela produção da melatonina, o hormônio do sono. E você dorme. Mas os relógios continuam funcionando, ordenando o funcionamento de todo o organismo (fazendo, por exemplo, com que você não sinta fome e não precise ir tantas vezes ao banheiro durante a noite). Quando amanhecer novamente, será desencadeada outra série de funções que ocorrem durante o dia.


Os prejuízos dos relógios desajustados


É na vida adulta (entre os 21 e os 65 anos) que se revela o verdadeiro relógio biológico de cada um. Antes disso, na infância, todos passam por uma fase matutina (ainda que o Ensino Fundamental se dê praticamente todo no período da tarde). Na adolescência, o predomínio é do cronotipo vespertino (ainda que aulas do Ensino Médio geralmente ocorram de manhã). Após os 65 anos, os idosos queixam-se de distúrbios de sono, e não raro se torna necessário dormir um pouco de noite e mais um tanto de dia.


Ou seja, de um jeito ou de outro, é bem provável que todos passem boa parte da vida enfrentando o cronodesajuste, como é chamada a dessincronizarão do relógio biológico em relação ao social. Isso se agrava ainda mais entre aqueles que trabalham no período noturno, os que não têm uma rotina fixa e os milhões de indivíduos que dormem tarde porque bloqueiam o sono (a produção de melatonina) com a luz azul, emitida por tablets e celulares.


– Serão felizes as pessoas que puderem respeitar o seu ritmo interno, que puderem dormir quando têm sono e ter todas as outras necessidades fisiológicas no horário em que o organismo disser "agora é meu horário". Só que, infelizmente, quase ninguém pode fazer isso, pois quem rege o nosso relógio é a sociedade – afirma Maria Paz Hidalgo, coordenadora do Laboratório de Cronobiologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.


Se não seguir à risca o seu relógio interno, pode ser que você só não esteja aproveitando o seu rendimento máximo nas tarefas diárias – o que já é ruim, na avaliação do psicólogo Michael Breus, autor do livro O Poder do Quando. Mas pode ser que o seus os ponteiros internos estejam tão dessincronizados que tragam uma ação devastadora para o seu bem-estar físico, mental e emocional. Quem sofre mais, neste caso, são os "lobos" e os "golfinhos", ou seja, os de cronotipo vespertino e os de perfis extremos, que dificilmente se adaptam aos horários da sociedade.


– Uma pessoa vespertina, por exemplo, pode ter vontade de dormir somente a partir das 2h, porque é quando a melatonina dela é liberada. Ela vai para cama neste horário e, consequentemente, irá dormir até mais tarde. Até aí, tudo bem. O problema é se ela tem de trabalhar todos os dias às 7h. É aí que está o desajuste, que pode trazer muita dificuldade para a vida dela – avalia Claudia Moreno, pesquisadora da USP.


A regra número 1 do relógio biológico



Se adaptar o horário de trabalho ao próprio relógio biológico não for possível – uma opção nada simples em tempos de pouca de oferta de emprego – o recomendado é uma rotina que vale para todos os cronotipos: ficar exposto à luz solar o máximo possível durante a manhã. Ao voltar para casa, no fim do dia, evitar o excesso de luz e o uso de equipamentos eletrônicos. Não se alimentar tarde demais, não praticar exercícios físicos antes de dormir, não acordar em horários diferentes no fim de semana. É preciso manter uma rotina. E, acima de tudo, lembre-se: a regra número 1 do relógio biológico são as boas horas de sono. Sem elas, todas as demais funções serão arrastadas ao longo do dia no compasso errado.


– Pelo menos 30% das crianças e adolescentes têm distúrbios de sono, e eles podem ser muito mais danosos nestas fases da vida, que são as de desenvolvimento. É fundamental aprender a dormir desde cedo. E os pais têm de ajudar, sabendo que o sono deles não é o mesmo do dos filhos, que não está certo deixá-los dormir no sofá da sala, em frente à TV. As crianças têm de ter o quarto delas, onde devem se preparar para dormir, com uma luz fraca, a leitura de um livro e, definitivamente, longe dos equipamentos eletrônicos – recomenda Felipe Kalil, neurologista infantil do Hospital São Lucas, em Porto Alegre.


– Quando adultos, levantamos cedo porque temos de fazer exercícios físicos, levar os filhos para a escola, assistir às notícias, ler todos os e-mails. E só dormimos quando sobrar tempo. Preocupados com a boa forma, procuramos um personal trainer.


De olho na dieta, consultamos uma nutricionista. Está correto. Mas e o sono? Dificilmente alguém tem a mesma preocupação com as horas dormidas – complementa o neurologista Geraldo Rizzo, coordenador do Centro de Distúrbios do Sono do Hospital Moinhos de Vento.



Manter a rotina é o segredo para cuidar do seu relógio biológico. Fazer a mesma coisa todos os dias pode ser chato para o cérebro, mas é o mais indicado para o corpo




Guilherme Justino








Apesar de toda a tecnologia que rodeia a maioria das pessoas atualmente, é como se, para o nosso corpo, tivéssemos acabado de descobrir o fogo. O longo processo de evolução determinou que nosso relógio biológico favorecesse o dia para as atividades que mais demandam esforços físicos e mentais, enquanto a noite seria o turno de recuperação. A inversão desses orientações internas com regularidade é algo muito recente — ainda um corpo estranho para o organismo humano.

Mas mesmo quem não troca repetidas vezes o dia pela noite costuma provocar alterações no relógio biológico. Às vezes, acontece de se acordar mais cedo, trabalhar até mais tarde, pular uma refeição, passar a noite em claro. E cada uma dessas ações é vista como um imprevisto pelo ritmo circadiano, que não gosta nada de alterações no seu dia a dia. Manter rotinas rígidas pode ser chato para o cérebro, que gosta de desafios, mas, para o corpo, é o que há de mais indicado.

— O melhor conselho que posso oferecer é buscar a estabilidade. Durma, coma e se exercite no mesmo horário a cada dia, na medida do possível. Isso ajuda todos os relógios do nosso corpo a se alinharem, e quanto melhor alinhados estiverem internamente, melhor vai ser sua saúde física e mental — recomenda o neurobiólogo americano Benjamin Smarr.

Essa predileção pela rotina não significa que qualquer deslize vá comprometer o funcionamento do relógio biológico. Alterações transitórias, como ficar acordado para ir a uma festa ou dormir um pouco a mais antes de um dia em que haverá alguma privação do sono costumam ser logo superadas.

— Ocorre, de alguma maneira, um desgaste fisiológico. Mas o organismo volta ao normal depois de algum tempo. Há mais riscos envolvidos quando as alterações se tornam crônicas — define Maria Paz Loayza Hidalgo, coordenadora do Laboratório de Cronobiologia e Sono do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Para a professora, as vantagens de seguir uma rotina para as atividades básicas, mesmo nos dias de folga e até nas férias, incluem maior disposição, melhor humor e períodos de repouso mais regulares e completos. É quando acordar na mesma hora todo dia passa a ser um hábito, e não um susto promovido por um despertador, que o relógio biológico começa a funcionar melhor.

Regule seu relógio

Saber se você funciona melhor acordando de manhã cedo ou indo dormir mais tarde ajuda a planejar os melhores momentos para realizar todas as atividades do dia a dia.

Procure estabelecer horários relativamente fixos para acordar, comer, fazer exercícios, dormir. O corpo gosta de manter uma rotina saudável.

Se puder, evite manter hábitos muito diferentes no fim de semana. Dormir durante toda a manhã de domingo quando é preciso acordar cedo na segunda prejudica a disposição.

Antes de dormir, procure diminuir a incidência de luz em casa e tente se afastar dos aparelhos eletrônicos. Essa luz dificulta o entendimento de que é noite para o corpo.

O que é afetado pelo ritmo circadiano


Aprendizagem e memória: as horas mais adequadas variam de pessoas para pessoa, mas sabe-se que é mais eficaz aprender durante a manhã ou a tarde. A atividade cerebral varia conforme o relógio muda, e não há período de menor capacidade de concentração que durante a madrugada.

Envelhecimento: conforme os anos passam, o corpo tem mais dificuldade de manter as engrenagens de todos os relógios biológicos das células. Envelhecer envolve também maior predisposição a problemas de metabolismo, que acaba ficando mais lento.

Jet lag: trocar de fuso horário muito rapidamente — algo comum em viagens longas pela aviação comercial — leva a um desalinhamento do relógio interno. Quando a hora do dia muda de maneira forçada, é comum se sentir mais sonolento. Uma variação desse fenômeno acontece quando se volta a acordar cedo depois de um fim de semana dormindo até tarde.

Nutrição: não apenas o sono é controlado pelo relógio interno: também a fome surge nos horários em que o organismo mais está acostumado e disposto a fazer a digestão. E, quanto mais tarde, menor costuma ser a capacidade de absorver os nutrientes adequadamente.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA -  Na atividade policial não há uma rotina e os horários de trabalham mudam o que é prejudicial à saúde e à tomada de decisão. O prêmio Nobel poderá dar mais importância aos gestores e executores policiais sobre as  jornadas de trabalho a que são submetidos, para estabelecer rotinas para melhor desempenho, menos erros e cuidados com a saúde de quem tem o dever de salvar as pessoas, proteger as comunidades e enfrentar o crime.