O Policiamento Comunitário ou de Proximidade é um tipo de policiamento ostensivo que emprega efetivos e estratégias de aproximação, ação de presença, permanência, envolvimento com as questões locais, comprometimento com o local de trabalho e relações com as comunidades, objetivando a garantia da lei, o exercício da função essencial à justiça e a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do do patrimônio. A Confiança Mútua é o elo entre cidadão e policial, entre a comunidade e a força policial, entre a população e o Estado.

domingo, 7 de novembro de 2010

PACIFICAÇÃO - Antes da UPP, o BOPE na rotina 'osso duro de roer'.


A rotina 'osso duro de roer' no rumo da pacificação. Policiais do Bope enfrentam rotina desgastante nas ações que abrem caminho para UPPs - POR VANIA CUNHA, O Dia, 07/11/2010

Rio - Vinte e quatro dias separam o Morro dos Macacos, em Vila Isabel, do passado de violência e jugo do tráfico. A cada dia, a liberdade ganha uma dimensão maior na vida das 12 mil pessoas que moram na comunidade e começam a se acostumar com a presença da polícia no cotidiano. Mas a ocupação de uma favela é um processo complexo e contínuo, que exige dos policiais empenho para evitar o retorno dos criminosos. Semana passada, O DIA acompanhou a rotina de dificuldades, anseios e sonhos de moradores e policiais do Bope na conquista da paz.

Os ‘homens de preto’ chegam ao cruzeiro, no alto do morro, logo após o amanhecer. No local, será inaugurada a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), dia 30. Após a troca com a equipe que passou as 24 horas anteriores na favela, os PMs iniciam o patrulhamento a pé e com viaturas.

Moradores são revistados e cada centímetro da comunidade, vasculhado. Nada escapa do olhar atento da tropa de elite: uma casa suspeita é avistada, mas lá dentro há apenas uma criança assistindo TV. Na parte baixa, meninos e meninas brincam numa piscina, antes exclusiva dos autorizados pelo tráfico.

Os mais de três quilômetros da caminhada revelam locais onde PMs e até moradores não chegavam antes da ocupação. Na Ladeira, uma casa usada como ‘fortaleza’ é uma herança dos anos de terror. Incontáveis perfurações de tiros mostram o antigo poderio bélico dos criminosos e uma pichação desafiava a polícia: “Dar tiro de longe é mole, quero ver me pegar”.

“Cheguei a ficar alguns dias sem conseguir sair de casa quando havia confronto. As balas ‘desfilavam’ na porta da minha casa. Me sinto aliviada”, desabafa uma vizinha da ‘fortaleza’. Mais acima, onde há muitas residências abandonadas por causa dos tiroteios, a dona de casa Sidneia Moraes festeja: “Ninguém queria morar aqui porque ficava na linha de tiro. Mas quando minha sogra falou que teria UPP, criei coragem e vim. Me sinto tão tranquila que até durmo com a porta aberta”.

Sobre a pedra do cruzeiro e com o morro ocupado, os ‘caveiras’ saboreiam uma vitória pessoal. “Esse cruzeiro é o nosso troféu. Era o lugar mais difícil de chegar. Estar aqui com sucesso e a equipe ilesa é a nossa maior alegria”, resume o cabo Valdeir Pereira.

PASSO A PASSO DA OCUPAÇÃO

PREPARAÇÃO

Antes de deixar o batalhão, em Laranjeiras, a equipe que vai para o Morro dos Macacos recebe as instruções para as próximas 24 horas. No alto, foi montada a base da ocupação, com dois contêineres e tenda para descanso e alimentação. Depois de se dividirem em grupos, os ‘caveiras’ seguem para a caminhada carregando 38 quilos de equipamentos. As trilhas são sinuosas e o patrulhamento é repetido diversas vezes por dia.

APROXIMAÇÃO

O medo de que o tráfico retorne ainda é grande. Tanto que muitos moradores ainda se escondem quando os policiais passam. Mas, aos poucos, os ‘caveiras’ vão conquistando a confiança das pessoas, que começam a cumprimentá-los espontaneamente. Extrovertidas, as crianças apertam a mão dos policiais. “Meu sonho é ser jogador de futebol, mas acho que agora também quero ser policial”, diz Marcelo Cabral, 13 anos.

HERANÇA DO TRÁFICO

Nas ruínas de uma casa, traficantes montaram sua segunda fortaleza, com direito a muro de contenção. “Desse ponto, muitos moradores não podiam passar. Tanto que várias casas foram abandonadas. Cerca de 50 bandidos se posicionavam aqui para alvejar a polícia lá embaixo”, explica o sargento Glebson. No patrulhamento, os PMs encontraram uma mesa de concreto usada por traficantes para conserto das armas.

DIFICULDADES

Depois de expulsar os criminosos, os policiais têm outros desafios pela frente. Sono, cansaço e caminhadas sob sol escaldante são obstáculos diários. Durante o serviço, os ‘caveiras’ bebem litros de água para não desidratar, carregam barras de cereais nos bolsos para matar a fome e chegam a perder um quilo a cada dia. Nas poucas pausas para descansar, brincadeiras com as crianças, animadas rodas de bate papos e piadas ajudam a reanimar.

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