SUA SEGURANÇA | HUMBERTO TREZZI - ZERO HORA 25/09/2011
Afora algum arroubo de entusiasmo, não há como comparar os Territórios da Paz em gestação na capital gaúcha com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) cariocas. A iniciativa gaúcha é bastante acanhada, se colocada lado a lado com a congênere do Rio, que conheci em julho de 2010.
Para começar, no Rio os bandidos têm controle sobre vastas porções do território, quase sempre o alto dos morros. A UPP só é instalada após a expulsão das quadrilhas que dominam o local escolhido. Já em Porto Alegre, os criminosos não têm domínio territorial dos quatro Territórios da Paz – mas tampouco se pode dizer que eles foram expulsos desses locais. O que aconteceu foi um natural recolhimento na postura dos delinquentes ante à presença ostensiva das polícias, que antes apareciam com menos frequência.
A segunda diferença é que as UPPs são prédios, com ar-condicionado, banheiro e tudo que os PMs precisam para bem exercer o ofício. Em Porto Alegre, PMs que atuam nos territórios da paz contam apenas com ônibus (no caso dos bairros menores, com micro-ônibus) como local de trabalho. Os policiais civis, apenas a viatura, exposta ao sol.
A terceira distinção é que as UPPs, no Rio, foram seguidas pela implementação imediata (na maioria dos casos) de outros benefícios estatais. Onde não havia luz, telefone e internet, apareceram escolas de música e artes, estúdios para aprendizado técnico-profissionalizante, quadras de esportes e salas de inclusão digital (com computadores para os jovens). Lógico que essa intervenção do Estado tirou dos bandidos grande parte do seu público cativo (e escravizado).
Em Porto Alegre a intenção é que o poder público providencie, nos Territórios, documentos aos que não têm, auxílio jurídico gratuito e até linhas de microcrédito.
Sairá do papel? Os governos federal e municipal chegaram a lançar sua versão de Território da Paz no bairro Bom Jesus. Uma das promessas, a Praça da Juventude, não foi implantada porque o município perdeu direito à verba em meio a um cipoal burocrático. O projeto Protejo deveria disponibilizar aulas e bolsa-auxílio a jovens em situação vulnerável, mas ainda depende de liberação de verba federal. Só vingou até agora o Mulheres da Paz, que é formação de líderes comunitárias tutoras de jovens, nas áreas de maior risco.
2 comentários:
Boa tarde! Sou GCM em Planaltina de Goiás. Fiz o curso de Promotor de Nacional de Polícia Comunitária. Observo que a própria Políca Militar tem resistência contra essa nova filosófia. Como você enxerga isso como um todo. E porque as Guardas Municipais não são citadas nos projetos de segurança pública como parceiros comunitários. GCM Robson Teles
Robson. No Brasil, há uma visão míope da segurança pública. é claro que as GM são partes do sistema, pois as considero como polícias municipais. Um dia esta será a tendência diante da falência das polícias estaduais na garantia da segurança preventiva. Sou pioneiro, defensor e estudioso desta filosofia, porém há muita resistência pelo conservadorismo que te medo de perder poder e controle. Eu já vislumbro que diante do sucateamento das forças policiais estaduais que vem incapacitando a missão preventiva, a solução está na criação das polícias municipais voltadas à prevenção dos delitos através da filosofia do policiamento de aproximação.
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