DIÁRIO GAÚCHO, 07/07/2017
Em Alvorada. Vaquinha para câmeras, apitaço e adesivos: como um bairro se uniu contra a violência
Comunidade criou rede de colaboração com 3,7 mil pessoas para combater a violência no bairro Jardim Algarve
Ao todo, são 25 grupos de WhatsApp para trocar mensagens sobre suspeitas de crimesFoto: André Ávila / Agencia RBS
Marcelo Kervalt
As rodas de conversa em que os vizinhos falavam sobre a rotina acabavam sempre em relatos de criminalidade. O medo da ação de assaltantes fez com que um grupo de moradores criasse uma rede de colaboração contra a violência e a insegurança.
Hoje, 3,7 mil pessoas que vivem no Bairro Jardim Algarve, em Alvorada, participam de 25 grupos de WhatsApp e se intitulam Vigilantes Comunitários. A iniciativa mais recente é uma vaquinha online, criada para comprar câmeras de vigilância por meio de colaboração de diferentes pessoas. A ideia é comprar pelo menos seis equipamentos e instalá-los em pontos estratégicos do bairro para monitoramento 24 horas.
Até sexta-feira, R$ 3 mil dos R$ 8,8 mil pretendidos haviam sido arrecadados. No final de junho, em quatro dias, foram registrados nove crimes como assalto a pedestres e furto e roubo de veículos, o que despertou a indignação dos moradores.
De forma organizada, a comunidade recorreu ostensivamente às redes sociais com apelo para aumento da segurança pública: "Pedimos que pelo amor que os senhores sentem pelos seus filhos nos ajudem a cuidar dos nossos", diz parte da mensagem enviada pelos Vigilantes Comunitários.
— Somos grupos de segurança preventiva com quase 4 mil pessoas que se comunicam via WhatsApp — explica o idealizador do projeto, o motorista Alex Steffani, 35 anos.
Em 2015, Steffani e a mulher perceberam que o medo era constante no bairro. Decidiram, então, unir a comunidade para remediar o problema. No WhatsApp, trocam informações sobre atividades suspeitas nas proximidades.
Nesses quase dois anos de existência, a comunidade se organizou para adesivar seus veículos e facilitar, assim, a identificação de automóveis suspeitos rondado o bairro. A liberação dos adesivos verdes dos Vigilantes Comunitários é controlada. Além disso, apitos foram distribuídos para que, do interior de suas casas, se inicie um apitaço coletivo para afugentar os bandidos.
— A recomendação é que, ao ver um crime, o apito seja acionado e que todos ao redor façam o mesmo, assustando o bandido — diz Steffani.
Em outros países, como Estados Unidos, o papel da comunidade no auxílio à segurança pública, é bom exemplo. Conforme a professora da UFRGS e integrante do grupo de pesquisa Violência e Cidadania Letícia Schabbach, o interesse pela área é dever de todos:
— É preciso cuidar para não haver preconceito nem pensar que irão substituir o trabalho da polícia. É interessante que a população seja proativa e auxilie o trabalho policial, afinal, segurança não é responsabilidade apenas do governo. A sociedade precisa dar a sua contribuição.
Para Charles Kieling, professor de Tecnologia em Segurança e Gestão Pública da Feevale, o uso da ferramenta é questionável.
— São eles que decidem o que é perigoso ou não, sem embasamento.
A análise precisa ser mais apurada — analisa.
Mapa de calor da violência
Criador e criatura: Steffani e os pontos marcados no bairro de locais em que crimes aconteceramFoto: André Ávila / Agencia RBS
Com os relatos que chegam ao celular, Steffani criou um "mapa de calor" da violência. Colado num isopor, o desenho do bairro recebe alfinetes nas cores preta, que identificam 128 roubos de veículos registrados por ele, em 2016, e amarela, referentes ao mesmo crime em 2017. A intenção é saber quais são as áreas mais vulneráveis para focar ações nesses pontos.
— O Jardim Algarve fica próximo da RS-118, da Protásio Alves (na Capital), da Estrada Caminho do Meio, o que facilita a fuga — explica o delegado Luis Carlos Rollsing.
Quanto à resolução dos casos, é sucinto:
— Não vou dizer que está tudo certo, falta efetivo. Temos de fechar a DP para fazer diligências. E a gente atua nos crimes graves.
Tratado como prioridade pela BM, o Jardim Algarve fica próximo ao que os moradores chamam de tríplice fronteira, área limítrofe entre Porto Alegre, Viamão e Alvorada. E isso, para capitão Juliano Araújo, comandante da companhia de Policiamento, é um dos fatores que contribuem para a criminalidade.
— Temos feito diversas ações de policiamento ostensivo, como barreiras nas entradas e saídas — argumentou.
Ao todo, são 25 grupos de WhatsApp para trocar mensagens sobre suspeitas de crimesFoto: André Ávila / Agencia RBS
Marcelo Kervalt
As rodas de conversa em que os vizinhos falavam sobre a rotina acabavam sempre em relatos de criminalidade. O medo da ação de assaltantes fez com que um grupo de moradores criasse uma rede de colaboração contra a violência e a insegurança.
Hoje, 3,7 mil pessoas que vivem no Bairro Jardim Algarve, em Alvorada, participam de 25 grupos de WhatsApp e se intitulam Vigilantes Comunitários. A iniciativa mais recente é uma vaquinha online, criada para comprar câmeras de vigilância por meio de colaboração de diferentes pessoas. A ideia é comprar pelo menos seis equipamentos e instalá-los em pontos estratégicos do bairro para monitoramento 24 horas.
Até sexta-feira, R$ 3 mil dos R$ 8,8 mil pretendidos haviam sido arrecadados. No final de junho, em quatro dias, foram registrados nove crimes como assalto a pedestres e furto e roubo de veículos, o que despertou a indignação dos moradores.
De forma organizada, a comunidade recorreu ostensivamente às redes sociais com apelo para aumento da segurança pública: "Pedimos que pelo amor que os senhores sentem pelos seus filhos nos ajudem a cuidar dos nossos", diz parte da mensagem enviada pelos Vigilantes Comunitários.
— Somos grupos de segurança preventiva com quase 4 mil pessoas que se comunicam via WhatsApp — explica o idealizador do projeto, o motorista Alex Steffani, 35 anos.
Em 2015, Steffani e a mulher perceberam que o medo era constante no bairro. Decidiram, então, unir a comunidade para remediar o problema. No WhatsApp, trocam informações sobre atividades suspeitas nas proximidades.
Nesses quase dois anos de existência, a comunidade se organizou para adesivar seus veículos e facilitar, assim, a identificação de automóveis suspeitos rondado o bairro. A liberação dos adesivos verdes dos Vigilantes Comunitários é controlada. Além disso, apitos foram distribuídos para que, do interior de suas casas, se inicie um apitaço coletivo para afugentar os bandidos.
— A recomendação é que, ao ver um crime, o apito seja acionado e que todos ao redor façam o mesmo, assustando o bandido — diz Steffani.
Em outros países, como Estados Unidos, o papel da comunidade no auxílio à segurança pública, é bom exemplo. Conforme a professora da UFRGS e integrante do grupo de pesquisa Violência e Cidadania Letícia Schabbach, o interesse pela área é dever de todos:
— É preciso cuidar para não haver preconceito nem pensar que irão substituir o trabalho da polícia. É interessante que a população seja proativa e auxilie o trabalho policial, afinal, segurança não é responsabilidade apenas do governo. A sociedade precisa dar a sua contribuição.
Para Charles Kieling, professor de Tecnologia em Segurança e Gestão Pública da Feevale, o uso da ferramenta é questionável.
— São eles que decidem o que é perigoso ou não, sem embasamento.
A análise precisa ser mais apurada — analisa.
Mapa de calor da violência
Criador e criatura: Steffani e os pontos marcados no bairro de locais em que crimes aconteceramFoto: André Ávila / Agencia RBS
Com os relatos que chegam ao celular, Steffani criou um "mapa de calor" da violência. Colado num isopor, o desenho do bairro recebe alfinetes nas cores preta, que identificam 128 roubos de veículos registrados por ele, em 2016, e amarela, referentes ao mesmo crime em 2017. A intenção é saber quais são as áreas mais vulneráveis para focar ações nesses pontos.
— O Jardim Algarve fica próximo da RS-118, da Protásio Alves (na Capital), da Estrada Caminho do Meio, o que facilita a fuga — explica o delegado Luis Carlos Rollsing.
Quanto à resolução dos casos, é sucinto:
— Não vou dizer que está tudo certo, falta efetivo. Temos de fechar a DP para fazer diligências. E a gente atua nos crimes graves.
Tratado como prioridade pela BM, o Jardim Algarve fica próximo ao que os moradores chamam de tríplice fronteira, área limítrofe entre Porto Alegre, Viamão e Alvorada. E isso, para capitão Juliano Araújo, comandante da companhia de Policiamento, é um dos fatores que contribuem para a criminalidade.
— Temos feito diversas ações de policiamento ostensivo, como barreiras nas entradas e saídas — argumentou.
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