O Policiamento Comunitário ou de Proximidade é um tipo de policiamento ostensivo que emprega efetivos e estratégias de aproximação, ação de presença, permanência, envolvimento com as questões locais, comprometimento com o local de trabalho e relações com as comunidades, objetivando a garantia da lei, o exercício da função essencial à justiça e a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do do patrimônio. A Confiança Mútua é o elo entre cidadão e policial, entre a comunidade e a força policial, entre a população e o Estado.

terça-feira, 14 de abril de 2020

A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO TRÂNSITO EM IJUÍ.


Em 1973 eu tinha voltado do Curso de Técnica de Ensino, no Centro de Instrução Almirante Wandenkolk, da Marinha do Brasil (frequentado na sempre saudável e agradável companhia do Eugênio Ferreira a Silva Filho, sendo que conquistamos os primeiro lugares), fora promovido a Capitão e assumira a chefia da Seção Técnica de Ensino.
A gente tinha uma “panela”, que era constituída pelo CAIRO BUENO DE CAMARGO, pelo MAURO PINTO MARQUES, pelo EURICO NUNES DE OLIVEIRA e por mim. Como referi em outras oportunidades, almoçávamos junto, na mesma mesa e costumávamos, depois do almoço e até o início do expediente da tarde, a continuar juntos, reunidos na minha sala (STE) e, ali, em conversas longas e eivadas de entusiasmo e filosofia, a alimentar o sonho de salvar o mundo através do trabalho de uma briosa Brigada.
Aquele ano de 1973 foi pródigo em realizações e “invencionices” da panela (“invencionices” por conta de uns não muito afeitos a condutas e atividades que extrapolassem o mínimo necessário...). A partir daí se planejaram e se organizaram Cursos de Especialização em Policiamento para Oficiais - em um deles, o Cairo conseguiu emprestado por uma semana um helicóptero da Esquadrão Misto de Reconhecimento e Ataque, da FAB, sediado em Santa Maria -, um Curso de Técnica de Ensino, um trabalho junto às escolas visando a melhorar o nível das futuras inscrições para os Cursos, refazimento e adequação dos currículos dos Cursos de Formação, Aperfeiçoamento e Superior, um plano para Educação para o Trânsito em âmbito Nacional, além de outras atividades, todas elas além de nossas atribuições específicas.
Estes trabalhos e atividades serão cada um tema de uma crônica, focando hoje neste o Projeto de Educação para o Trânsito para escolas.
Abrindo um parêntese, refiro que no ano de 1967, ao ser transferido de Passo Fundo para a APM (CIM na época), verifiquei que não havia a disciplina de Trânsito no CFO. Consegui com o então Ten Mauro Carvalho, que tinha cinco aulas de Polícia nas manhãs das quartas-feiras, que ele me cedesse dois tempos a cada semana e, assim, organizei a matéria TRÂNSITO. Sobre este fato também comentarei em outro dia.
Pois em relação ao projeto de educação para o trânsito, passei a trabalhar, fora do horário de expediente, diretamente com a Fundação Padre Landell de Moura e a Secretaria de Educação do Estado, tendo sido conseguido o patrocínio do Café Dínamo. Como quarta à tarde não havia expediente e eu tinha pelo menos duas delas livres por mês - pois nas outras duas havia o trabalho com as escolas em visita à APM -, trabalhava nesses horários ora na Fundação, ora na Secretaria. Estruturou-se desta forma o projeto de Educação para o Trânsito, nascendo nele a dupla PMZITO E DINIMIM (em função do café Dínamo).
Foram escritos e impressos livros da 1ª à 5ª série e o Manual do Professor e, em função das modernidades de que se dispunha à época, foram usados slides em conjunto com uma fita cassete, ambos acionados simultaneamente em um aparelho que nem lembro o nome. Assim tínhamos som e imagem do conteúdo para apresentações e aulas, com o reforço dos exercícios contidos nos livros.
Conseguimos o lançamento da campanha de dentro da Secretaria, cujo titular era um Coronel da Reserva do Exército, de nome Mauro Rodrigues (parece-se ser este o sobrenome; afinal lá se vão 47 anos). Houve na ocasião a firme promessa de implantação das aulas a partir de 1974.
Acompanhando de perto as providências para esta implantação, o Cairo e eu sentimos que não a coisa não estava andando e, ainda, havia o furo em relação às escolas municipais.
Então decidimos, ele e eu, usar nossas férias – que seriam gozadas em fevereiro de 1974 – para promover a divulgação junto a Prefeituras.
Para isto, conseguimos algum patrocínio para despesas (gasolina, alimentação e hospedagem), organizamos um roteiro, fizemos contatos com Unidades e Destacamentos e embarcamos no meu carro, um Corcel ano 1972, placa AB-9099.
Visitamos mais de 20 cidades, onde fizemos palestras, acontecidas nos mais variados horários, sempre para um bom público, graças ao prestígio dos comandantes das OPM nos centros maiores e de nossos colegas comandantes de Destacamentos nos demais.
Em cada local o público se mostrava interessado... mas não passava disso, pois dos prefeitos e seus secretários de educação o que ouvíamos era que o plano anual estava pronto e que fariam o possível para incluir no segundo semestre.
Chegamos uma tarde em Ijuí, depois do almoço, pois pela manhã havíamos falado em Cruz Alta.
O Comandante do Destacamento de Ijuí era o então Tenente Jorge Ricardo Ascenço. Fiquei feliz em revê-lo, pois tinha sido meu aluno no CFO, inclusive da matéria de Trânsito. Conversamos, visitamos o local da palestra e conseguimos que um hotel nos acolhesse naquela tarde, para banho e troca de roupa, sem pouso, pois, assim que terminada a palestra, trocaríamos o uniforme pela ”xerga” de viagem, jantaríamos e seguiríamos para Santo Ângelo, onde dormiríamos.
À noite, fomos brindados com um ótimo público presente. Prestígio do Ascenço, sem dúvida. Terminada a palestra, fomos jantar um pouco frustrados, pois não tínhamos recebido qualquer sinal de interesse por parte da administração Municipal, e dali seguimos para o hotel, onde trocamos a roupa. Já estávamos saindo quando chegam o Prefeito e o seu Secretário de Educação: “Capitão”, diz-me ele, “queremos este projeto já.” Animados, sentamos em reunião na recepção do hotel, explicamos o funcionamento, detalhamos os contatos a serem feitos com a FEPLAM e deixamos uma unidade do aparelho com fita e slides, um kit completo dos livros “As Transas de Dinimim e PMzito no Trânsito”. Despedimo-nos e, desta vez felizes, seguimos adiante.
Continuamos o périplo pelo Rio Grande e completamos a volta pelo Rio Grande.
(Não posso esquecer de falar do velho Quirino Dias, que encontramos perto de Livramento, mas, como sempre, é outra história a contar.)
De todos os municípios visitados, apenas Ijuí pôs em execução, naquele ano de 1974, o projeto de forma integral. Alguns Municípios esparsamente usaram partes do plano, sem metodologia e persistência.
Bem, como referi, era o mês de fevereiro de 1974.
Em dezembro de 1.975 pedi a minha licença prêmio, passei a gozá-la e, ao seu término, entrei em licença para tratar de interesse particular, sendo que pedi a minha demissão em outubro do ano seguinte.
Pois em 1.993, - praticamente vinte anos depois da conversa com o Prefeito de Ijuí –, eu já morando em Passo Fundo, estava na sala da minha casa, a assistir TV. Era um domingo. Na abertura do programa Fantástico, Cid Moreira, com sua voz de barítono, vai mencionando as manchetes dos assuntos que seriam ali tratados. E uma delas era: “IJUÍ, no Rio Grande do Sul: a cidade mais educada no trânsito. É Fantástico!”
Eu sorri...
Cumpria-se ali, ainda que numa minúscula parte do mundo, aquilo que uns idealistas tinham imaginado quando tiravam de suas horas de folga tempo para pensar em como melhorar o que havia a sua volta. E tal como dizíamos, quando planejávamos, a educação haveria de ser a solução para um problema como o trânsito. Levou o tempo de uma geração para que uma cidade, com um prefeito interessado, viesse a se tornar exemplo para todo o País.
Minha homenagem ao querido Eurico Nunes de Oliveira, que foi retirado de nosso convívio muito cedo e de forma brutal; meu carinho com a admiração de sempre e a saudade que só os muuuuito veteranos sabem sentir de forma dolorida e silenciosa aos valorosos Cairo Bueno de Camargo e Mauro Pinto Marques. E a minha homenagem especial a minha querida e inesquecível Academia de Policia Militar da briosa Brigada Militar.

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