O Policiamento Comunitário ou de Proximidade é um tipo de policiamento ostensivo que emprega efetivos e estratégias de aproximação, ação de presença, permanência, envolvimento com as questões locais, comprometimento com o local de trabalho e relações com as comunidades, objetivando a garantia da lei, o exercício da função essencial à justiça e a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do do patrimônio. A Confiança Mútua é o elo entre cidadão e policial, entre a comunidade e a força policial, entre a população e o Estado.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O JAPÃO É AQUI


O SUL, 28/10/2013


WANDERLEY SOARES

Sistema nipônico começa a amarelar a política da segurança pública do RS

O município de Lajeado, no Vale do Taquari, implantará seis núcleos do PEPC (Programa Estadual de Polícia Comunitária), que é programado para ser conhecido por 46 mil pessoas. O investimento total chega a R$ 450 mil, o que corresponde a um apartamento de classe média quase alta. Para aperfeiçoar o programa, está sendo realizado um curso de 40 horas de PPC (Promotor de Polícia Comunitária). Lembro que as 40 horas do PPC correspondem a uma semana de trabalho de um professor que leciona em dois turnos. Em Lajeado, participam do PPC 24 policiais e cinco membros da comunidade, que sairão do curso prontinhos para ir à luta. Sigam-me.


Chuzaisho (1)

Segundo o Piratini, o PEPC traz um conceito inédito no Brasil, "aproximando os policiais com a população". Alinhava o policiamento comunitário - denominado Chuzaisho, no Japão - e o de policial de quarteirão. Traz para o perímetro urbano o conceito japonês que coloca o policial a morar em pequenas comunidades da zona rural. Os PMs alugam as moradas nos bairros de atuação (custeadas pelos municípios com bolsa de R$ 600 por mês) e a viatura poderá ficar na própria casa, em algum lugar da comunidade ou no batalhão. A partir do levantamento das necessidades da região, o policial adapta seu horário de trabalho


Chuzaisho (2)

Adotado o sistema nipônico, segundo consigo entender, como um humilde marquês e mero observador da segurança pública, o PM que morar em sua área de trabalho e com uma viatura na frente ou próxima de sua casa, estará de plantão 24h/dia. Ele a sua família. Tal policial será prestigiado pela comunidade e alvo iluminado para bandidos. Chego a crer que o PEPC deverá importar não só o Chuzaisho, como também a cultura japonesa, sem esquecer de tornar os cruzados dos PMs equivalentes aos ienes dos samurais



COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Sou defensor da estratégia do policiamento comunitário, de proximidade e interativo, trabalhado como filosofia de policiamento que aproxima o policial do cidadão, aumenta as relações comunitárias e propicia uma interação preventiva dos delitos, mediação de conflito  e agilidade no atendimento das ocorrências. A base desta filosofia é a confiança mútua e a chave é o comprometimento. Se a base não for sólida e a chave não for a adequada, a filosofia não resiste ao tempo, especialmente se tiver conteúdo político partidário.

sábado, 5 de outubro de 2013

A ARTE MÉDICA DE SHERLOCK HOLMES






ZERO HORA 05 de outubro de 2013 | N° 17574

ARTIGOS

Franklin Cunha*



O criador do detetive Sherlock Holmes, como todos sabem, foi o médico inglês dr. Arthur Conan Doyle (1859-1930). Seu amigo, assistente e biógrafo, foi o dr. John Hamish Watson, personagem de ficção que fez o mundo conhecer as façanhas do arguto personagem, descritas com um estilo intrigante pelo famoso detetive que provou ser extremamente talentoso nas artes da literatura. Por ser médico, Conan Doyle, empregava rigorosamente o método da semiologia médica, para desvendar obscuros casos de assassinatos. A partir de sinais e sintomas, adicionados de perspicazes observações e paixão pela justiça, chegava sempre ao autor do crime. Munido apenas com uma lupa, ao detectar um fio de cabelo no espaldar de uma poltrona, cinzas de charutos no tapete, uma palavra ou expressão facial do investigado, era tudo o que Conan Doyle necessitava para chegar às suas brilhantes e acertadas conclusões. E sem o coice na porta, a invasão de domicílio e a tortura.

O aspecto pouco observado nos contos de Doyle é a fina ironia que ele exerce ao ter como assistente de investigações exatamente o dr. Watson, um médico que nunca entendia o semiótico raciocínio investigativo de seu chefe. Pronunciada desdenhosamente, a conhecida frase “ elementar, meu caro Watson” talvez fosse endereçada a certos médicos de sua época que elaboravam diagnósticos equivocados e prescreviam terapêuticas inúteis.

Discute-se atualmente, se, para se detectar doenças na prática médica diária, são indispensáveis e fundamentais as sofisticadas tecnologias de múltiplos exames laboratoriais acrescidos de refinadas imagens radiológicas, ecográficas, tomográficas, cintilográficas, de ressonâncias magnéticas e outras. Sob o ponto de vista do médico, todas são esclarecedoras e confortáveis, pois, nos poucos minutos que sobram para o paciente, o diagnóstico quase sempre é feito. Mas, para o lado das inseguras e atemorizadas pessoas que procuram algo além da bateria de exames, tais como tempo para falar, expressar suas angústias, contar sua vida e perceber que têm a sua disposição ouvidos e olhares atentos e amorosos, os exames não são suficientes. E a queixa frequente é de que “o doutor nem me olhou, só examinou os exames”. Então, se a tecnologia diagnóstica é colocada prioritariamente como uma parede entre o médico e quem o procura por se julgar doente, de forma a interromper o indispensável relacionamento médico-paciente humano, este, sim, fundamental no exercício da arte médica, é urgente que se reformule todo o procedimento da cura de doenças e da manutenção da saúde, principalmente das populações pobres do país.

A lupa única de Conan Doyle e sua paixão pela justiça, uns poucos exames, o afeto e o respeito ao paciente no exercício da arte médica, são condições pontuais e necessárias, a primeira para se descobrir o autor de um crime e as outras para se cumprir o que Maimônides, há mais de mil anos ensinou: “Ao paciente, deve-se dedicar uma hora: 15 minutos para examinar-lhe o corpo e 45 minutos para sondar-lhe a alma”.


*MÉDICO


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Há muito em comum a atividade médica com a atividade policial. Se os policiais utilizassem os padrões médicos a partir da anamnese seriam muito mais eficientes.

A Anamnese (do grego ana, trazer de novo e mnesis, memória) é "uma entrevista realizada pelo profissional de saúde ao seu paciente, que tem a intenção de ser um ponto inicial no diagnóstico de uma doença. Realizada pelo gestor do policiamento ostensivo junto ao corpo policial que comanda, junto ao cidadão morador ou comerciante, ou junto à comunidade onde trabalha. A entrevista e a reunião comunitária são capazes de dar um pontapé inicial para um diagnóstico da atuação policial e dos problemas de segurança pública existentes no seu território ou local de responsabilidade. O diagnóstico posterior possibilita a relação desta entrevista ou reunião com o cenário de insegurança, na busca de sinais e sintomas que podem ser encontrados em níveis de criminalidade, tipos de delitos, deficiências internas, falta de sistema e nos resultados produzidos pelas estratégias, táticas e ações policiais desenvolvidas. Diante destes sinais e sintomas, o próximo passo a sanar os erros e dar um tratamento correto e de qualidade no exercício do serviço público na preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. 

Um dos maiores erros de um gestor de policiamento ostensivo é achar que sabe tudo e que não precisa do policial, do cidadão e da comunidade para encontrar os problemas, detectar os erros e encontrar as soluções.

Infelizmente nas polícias brasileiras não são comuns a realização periódica de entrevistas com lideranças , reuniões comunitárias e diagnóstico institucional (o que somos, o que temos e qual é a nossa razão de existência) e diagnóstico da prestação de serviço policial geral (como instituição) e nos espaços de territorialidade (qualidade na prestação da atividade policial) em relação às demandas. Em 1991, então comissário-chefe da NYPD, Lee Brown elaborou um relatório que trouxe a tona os erros estratégicos diante da demanda por segurança e dos anseios da população; apontou as dificuldades e deficiências do departamento; iluminou tendências e uma perspectiva futura; e proporcionou uma retomada do departamento com aplicação de novas formas de emprego, novo perfil de recrutamento, métodos de treinamento, aumento de efetivos, valorização dos policiais, aproximação da polícia junto às comunidade periféricas e aumento das responsabilidades dos comandos com compromissos e metas qualitativas a serem cumpridas. Há de ter muito profissionalismo, planejamento estratégico, comprometimento, foco e aproximação para se avaliar uma doença (especialmente a do crime e da violência) e adotar o tratamento mais adequado com todos os remédios possíveis, usando os da organização e exigindo os que faltam.

Lee Patrick Brown (nascido em 04 de outubro de 1937) teve uma carreira de longa data na aplicação da lei, levando os departamentos de polícia de Atlanta, Houston e Nova York ao longo de quase quatro décadas. Durante esse tempo, ele ajudou a implementaruma série de técnicas de policiamento comunitário que pareciam resultar em diminuições substanciais em crime. Em 1997, Brown foi o primeiro americano Africano para ser eleito prefeito de Houston, Texas. Ele foi reeleito duas vezes para servir o máximo de três mandatos 1998-2004.(wikipédia)

















quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A UPP ESTILHAÇADA




ZERO HORA 03 de outubro de 2013 | N° 17572

SUA SEGURANÇA | HUMBERTO TREZZI

A se julgar pelos resultados do exaustivo inquérito conduzido pela Polícia Civil fluminense, o pedreiro Amarildo de Souza foi torturado, antes de ser morto por PMs, possivelmente pelo exagero nos maus-tratos. Nada espantoso para uma Polícia Militar de históricos padrões violentíssimos, num Estado com tradição em execuções de suspeitos.

Tudo talvez virasse nota de rodapé nos jornais não se tratasse de uma morte ocorrida dentro de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Para quem não é do Rio e nem está acostumado ao noticiário policial: as UPPs são o novo cartão de visitas carioca. São postos de policiamento comunitário compostos de policiais treinados para interagir com os moradores da região. A conhecê-los pelo nome. A respeitá-los.

Tudo mesclado com fortes investimentos em infra-estrutura, como rede elétrica, de informática, canchas de esporte e até salões para dança, em muitos casos. A mais moderna proposta de policiamento no Brasil, reconhecida até mesmo pela renhida oposição enfrentada pelo governador fluminense Sérgio Cabral. E sei do que falo, porque visitei os morros e as principais unidades pacificadoras em 2011, sem me identificar, para ver se funcionava mesmo. Os postos comunitários eram até melhores do que eu esperava.

Pois Cabral acaba de ter sua principal vitrine política, a UPP, estilhaçada por um episódio sem justificativa. Por mais que tentem criminalizar Amarildo, os PMs que o prenderam – e, conforme investigações, o torturaram e o mataram – terão dificuldade de explicar como se transformaram de guardiões comunitários em carrascos.

Os métodos utilizados no caso, um interrogatório recheado de choques elétricos para descobrir paradeiro de traficantes, pareciam longe de contaminar as UPPs. Até agora... Compreensível que a comunidade grite contra esse crime. Só não ponham a culpa no projeto das UPPs, de longe a melhor ideia já implementada no policiamento das favelas.