O Policiamento Comunitário ou de Proximidade é um tipo de policiamento ostensivo que emprega efetivos e estratégias de aproximação, ação de presença, permanência, envolvimento com as questões locais, comprometimento com o local de trabalho e relações com as comunidades, objetivando a garantia da lei, o exercício da função essencial à justiça e a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do do patrimônio. A Confiança Mútua é o elo entre cidadão e policial, entre a comunidade e a força policial, entre a população e o Estado.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
PACIFICAÇÃO - Mulheres do Bope ajudam a recuperar comunidades pacificadas
Mulheres do Bope ajudam a recuperar comunidades pacificadas - Jornal do Brasil - 19/10/2010
Sim. O título da reportagem está correto. A tropa de elite da Polícia Militar do Rio de Janeiro conta, sim, com duas mulheres, que também ajudam no ordenamento urbano, aproximando as comunidades pacificadas das forças policiais. Assim como para os homens do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), a nova missão da pedagoga Rosemery de Carvalho e da psicóloga, tenente Bianca Cirillo, é levar paz e cidadania aos moradores do Morro dos Macacos, em Vila Isabel. As “armas” são diferentes, mas o objetivo é o mesmo: resgatar o sentimento de pertencimento.
Desde o processo de implantação da Unidade de Polícia Pacificadora do Borel, Rose e Bianca dão o pontapé inicial para que o relacionamento entre policiais das UPPs e moradores beneficiados seja harmonioso e comece, antes mesmo da inauguração do “batalhão especial”, a render frutos. É o início de uma nova história para as comunidades ocupadas. Em reuniões do Bope, são apresentadas as vantagens que chegam junto com a unidade de polícia, como investimentos em infraestrutura e ações sociais. E essa lição é aprendida desde cedo, nas creches e escolas vizinhas às regiões.
- O histórico das pacificações nos mostra a necessidade de receber recursos aplicativos tecnológicos e humanos na ocupação, e foi observado nessa aproximação que a escola está dentro do contexto. Por conta disso, achamos necessário fazer do professor um medidor de segurança. Tudo que começa dentro da comunidade reflete no colégio. Nós mostramos, em reuniões, as etapas da pacificação. A criança deve ver o policial como uma pessoa que está ali para trazer a paz e proteger. Damos panfletos para as crianças e oferecemos visitas guiadas na sede do Bope e na comunidade Tavares Bastos - explicou a professora Rose.
Nesta terça-feira (19/10), o comandante do Bope, Paulo Henrique de Azevedo, se reuniu pela primeira vez com mais de 200 moradores do Morro dos Macacos para explicar como será realizada a pacificação e ouvir as demandas da comunidade, que foi ocupada em 14 de outubro e ganhará, em até 40 dias, a 13ª Unidade de Polícia Pacificadora do estado. A intenção é fazer uma ponte entre os poderes públicos. Depois de iniciar a comunicação operacional, os caveiras planejam inserir no morro os projetos educacionais, comandados por Rosemery, que recebe ainda o auxílio de outras duas policias do batalhão, sargento Ana e soldado Ana Paula.
- Nossa primeira preocupação quando ocupamos a comunidade foi evitar o confronto, nos reapresentamos para evitar conflitos. Recuperamos o espaço para os moradores, os verdadeiros donos. Depois, começamos o processo de abordagem de pessoas e vistoria de casas para a própria segurança do morro. O canal de comunicação com os cidadãos se estende às escolas, que tinham muitos problemas, já que a violência afetava o desempenho das crianças. No Borel, essa aproximação deu certo. Os estudantes até criaram uma música para nos homenagear - ressaltou o comandante do Bope.
Os planos da equipe pedagógica e psicológica da tropa de elite para recuperar a dignidade de moradores de áreas antes dominadas pelo crime organizado estão sendo ampliados. Em breve, esses encontros serão realizados também com adolescentes. Serão distribuídas ainda cartilhas sobre a história do batalhão. O trabalho, que inclui um histórico sobre as pacificações, seus desafios e conquistas, ajuda a resolver alguns tipos de conflitos, como o medo que algumas crianças têm dos policiais. Os resultados são positivos.
- Estudantes de comunidades pacificadas relatam que agora podem ir para a escola e voltar para casa com tranquilidade. Estão em paz. A rotina muda. O clima é de paz, o que favorece na hora de cumprir suas obrigações escolares. A aprendizagem é melhor. Nós ajudamos a encontrar a identidade de cada criança. Nós também fazemos uma aproximação com o grupo de música do Bope e os projetos sociais vão chegando aos poucos e atendendo às carências dessas pessoas - contou a pedagoga Rosemery de Carvalho.
Primeiros a chegarem no morro que abrigava uma das mais violentas quadrilhas de traficantes da Zona Norte, 110 policiais do Bope, ao lado de 40 homens do Batalhão de Choque e 25 policiais do 3º (Méier) e 6º (Tijuca) batalhões, pretendem trabalhar pela liberdade das pessoas que moram na região. A ideia é construir relações de confiança para que o medo se transforme em esperança e melhorias nas áreas da educação, cultura, saúde, lazer etc. A dona de casa Maria de Souza, de 64 anos, torce para que os benefícios cheguem tão rápidos quanto a paz decretada.
- Eu achei maravilhosa a inauguração de uma UPP aqui no morro. Moro na comunidade desde 1986 e vim exatamente em busca de serviços essenciais, com educação e moradia digna. Meu filho, na época com 9 anos, precisava estudar e onde morávamos era longe demais. Não encontramos a tranquilidade que buscávamos. Hoje, sei que os serviços serão organizados pelo Estado. Esses encontros são fundamentais para mostrar a mim e aos meus vizinhos a importância dessa nova etapa das nossas vidas - afirmou.
domingo, 17 de outubro de 2010
ROTA 40 ANOS - A FESTA DA BOINA PRETA DA PMSP
Os 40 anos da Rota: estampidos e bombas na festa Boina Preta da PM. Trilha sonora heavy metal marca aniversário da mais polêmica unidade de polícia de SP, que matou 56 neste ano - 17 de outubro de 2010 | 0h 00 - Marcelo Godoy - O Estado de S.Paulo
Estampidos, bombas de efeito moral e cheiro de pólvora no ar. Sexta-feira foi dia de festa no famoso quartel amarelo das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). A mais polêmica unidade da Polícia Militar de São Paulo comemorou seus 40 anos desfilando seus homens, armas e números. Sua tropa mandou em 2010 três pessoas por dia para a cadeia e um total de 56 para o cemitério.
"A população não quer ser afagada pela polícia. Para afagar tem namorada e namorado", afirmou o tenente-coronel Paulo Adriano Telhada, que organizou a festa com telão, cascata de fogos e trilha sonora heavy metal, além da tradicional banda marcial da PM. Telhada, que assumiu o comando da Rota em 2009, não foi o único a discursar. Lá também estava o secretário da Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto. "Tive a coragem de usar a Rota como outros não tiveram, resgatando um importante instrumento no combate à criminalidade violenta."
A ausência de dois dos seus pelotões na festa seria a prova dos novos tempos. Pela primeira vez na história do batalhão, 40 policiais com suas boinas pretas foram enviados à região de Presidente Prudente, que concentra os presídios onde estão os mais perigosos bandidos do Estado. Trata-se da Operação Divisa, para combater o tráfico de armas e drogas e, ao mesmo tempo, mandar um recado às facções criminosas.
Desde 2009, a Rota se transformou em um dos principais instrumentos contra o crime organizado no Estado. Seus homens foram responsáveis pela apreensão de 1,3 tonelada de drogas e de armas suficientes para equipar um batalhão. Ao mesmo tempo, os casos de uso de força letal aumentaram - até 7 de outubro, a Rota havia matado o mesmo número de pessoas que em todo o ano passado.
Tema de muitas campanhas eleitorais, coincidentemente, foi a necessidade de pôr a PM na rua que fez a Rota nascer oficialmente, em 15 de outubro de 1970. Naquela época, a tropa do 1.º Batalhão Tobias de Aguiar vivia aquartelada e quase só era usada em operações de policiamento de choque. Quarenta anos depois, os carros cinzas com o "R" estilizado na porta deixam o quartel no centro da cidade três vezes por dia.
A atual centena de Blazers da unidade deve ser trocada por Hilux. Uma fartura muito distante de quando, em caráter experimental, ela começou com um jipe e uma picape C-14 velhos - só depois vieram as Veraneios. Ali, nos anos 70, quem tinha muita derrubada (ocorrências com morte) ganhava medalha, promoção e prêmio. Era o tempo em que o general Torres de Mello, então comandante da PM, incentivava os oficiais, dizendo: "Vamos caçar bandido". E a tropa não deixava por menos. "Havia tiroteio todo dia", disse o coronel Salvador D"Aquino, fundador da Rota. Ouvido pelo Estado em 2004 - entrevista inédita -, D"Aquino comandava a unidade na época do caso Rota 66.
Era madrugada de 23 de abril de 1975 quando três jovens de classe média foram metralhados pela guarnição 66 da Rota, iniciando a longa fila de casos polêmicos da unidade. Para Telhada, os tempos eram outros. "Eram anos de chumbo. Depois aprendemos que a polícia não tem inimigos. Não somos um exército em guerra, mas, na época, as pessoas não pensavam assim."
Os casos eram tantos que, em 1983, o então governador eleito de São Paulo, Franco Montoro (PMDB), pensou em acabar com a Rota. A maioria dos oficiais carregados com ocorrências com mortes foi transferida. Entre eles estava o capitão Conte Lopes, que se envolveu em mais de 30 tiroteios. "Graças a Deus, quem sempre levou a pior foram os bandidos." O afastamento causou protestos de taxistas. Conte desembarcou na política, onde conquistou seis mandatos sucessivos como deputado estadual - o capitão não foi reeleito desta vez.
Em 1992, a Rota voltou a ser notícia por causa da operação que culminou com a morte de 111 presos no Pavilhão 9 da Casa de Detenção de São Paulo. Ao todo, 59 de seus homens foram denunciados no caso. Após o massacre, assumiu a unidade o tenente-coronel Ivan Marques de Almeida. Em poucos dias, ele mandou embora do batalhão quase uma centena de sargentos. Depois disso, outras caças às bruxas ocorreram.
Apesar dos sucessivos afastamentos, defensores dos direitos humanos, como o advogado Rildo Marques de Oliveira (Centro Santo Dias e Movimento Nacional de Direitos Humanos), dizem que "a cultura de eliminação" permanece no batalhão. "É uma cultura criada no passado que resiste, apesar de o comando atual estar imbuído de nova perspectiva."
É essa perspectiva que faz com que o policial candidato a entrar na Rota não possa ter uma ficha carregada com mortes. Telhada é exceção - ele tem mais de 20 ocorrências com morte na carreira. Além da seleção, a PM investe no treinamento dos 575 homens do batalhão.
O sargento Tamir Klaus Meitling (16 anos de Rota) é quem cuida das armas. São fuzis, submetralhadoras, espingardas, pistolas, revólveres e bombas de diversos tipos usados por homens como o sargento Silvio Luis da Silva, de 46 anos, e o cabo Alex Morello Fernandes, de 45. Mesmo eles - ambos têm mais de 20 anos de batalhão - devem treinar. "Aqui é proibido morrer em serviço", diz Morello. No ano do 40.º aniversário, a Rota não perdeu nenhum homem em tiroteio.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A atuação preventiva e aproximada do policiamento comunitário depende muito da pronta resposta das forças especiais para a reação e contenção dos delitos com força, habilidades e técnicas especiais de abordagem e condução. Segmentos como a Rota-SP, o Bope-RJ e o BOE-RS são vitais para o complemento da atividade policial ostensiva. Parabéns à Rota e seus fiéis e bravos integrantes.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
TRÁFICO DESAFIA UPP COM ARSENAL PODEROSO
A GUERRA DO RIO - No caminho da UPP do Alemão, o arsenal do tráfico. Vídeo mostra bandidos com 92 armas em festas de comunidade que será ocupada em 2011 - POR LESLIE LEITÃO, O Dia, 08/10/2010
Rio - No dia em que foi reeleito, o governador Sergio Cabral anunciou que, entre os alvos do projeto de expansão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) para 2011, está a pacificação do Complexo do Alemão. Uma operação que vai necessitar de cerca de 2 mil homens. O efetivo gigantesco dá a dimensão do tamanho do desafio do estado para retomar um terreno. Como até o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, já admitiu, a região se tornou abrigo, justamente, de traficante refugiados de outras comunidades já ocupadas pelas UPPs. Consequentemente, as armas também se multiplicaram no local.
E é isso que revela um vídeo, ao qual O DIA teve acesso, feito ao longo deste ano no Morro da Fazendinha, em Inhaúma, durante quatro bailes funk realizados no meio da rua. Crianças até de chupeta, mulheres grávidas, idosos e jovens moradores são obrigados a conviver com o grupo armado até os dentes.
Nas quase três horas de gravação, os criminosos exibem 59 fuzis de modelos diferentes — a maioria calibre 7.62 — uma metralhadora e 32 pistolas, em um impressionante desfile bélico. Apesar de a filmagem ter uma legenda digital de 2007, o ano e o horário estão com registro errado. Fontes da Polícia Civil confirmaram que o vídeo foi gravado este ano.
Apontado pela polícia como o ‘quartel-general’ do Comando Vermelho (CV), o Complexo do Alemão tornou-se o principal reduto dos chefões da facção, especialmente, pela dificuldade de acesso. Em 2007 e 2008, foram apreendidas 394 armas no Alemão e no vizinho Complexo da Penha, dominado pela mesma quadrilha.
Em março de 2008, a região começou a ser beneficiada por obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), orçadas em R$ 827 milhões, numa parceria entre os governos federal e estadual. A Polícia Civil chegou a planejar uma megaoperação — 120 mil cápsulas para fuzil —, mas a ação acabou cancelada.
Grandes incursões na região não têm sido frequentes. Segundo investigações, bandidos de favelas onde há UPPs — como Cidade de Deus, Pavão-Pavãozinho, Dona Marta e Borel — se refugiaram no Alemão e na Penha. O governador também anunciou a pacificação da Rocinha, Maré e Manguinhos em 2011.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Sou defensor da filosofia do policiamento comunitário como forma de conquista da confiança dos moradores e inibidor da criminalidade, mas não acredito na sua eficácia sem as salvaguardas da lei e envolvimento dos demais instrumentos de coação, justiça e cidadania na preservação da ordem pública. As UPPs são o exemplo prático na medida que ocupam territórios antes dominados pelos bandidos, permanecem nos locais em contato com os moradores, patrulham as áreas de risco, prendem e afugentam a bandidagem, mas não garantem que estes sejam julgados e condenados, fiquem presos, percam o comando e sejam isolados de suas facções. Apesar do esforço policial, os bandidos continuam aterrorizando o Rio, assaltando, fazendo arrastões, traficando, executando seus adversários e colaboradores da polícia, e recebendo benefícios penais e portas de fugas. Policiamento comunitário sem justiça e leis é o mesmo que uma flecha sem arco - uma ponta fraca, incapaz de atingir com profundidade seu alvo e sem impulso para cumprir a sua função. Com o tempo perde a motivação e a confiança de todos, para a alegria de outros.
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